Conto – Despertar

magechroniclersguideBom, não consegui cumprir o prazo essa semana… Mas para não deixar o tempo passar sem publicar conteúdo algum por aqui, resolvi passar por cima da timidez e da auto-crítica e publicar um conto que escrevi. Devo dizer que o conto se baseia em dois cenários de jogos de RPG (hobbie que pratico desde criança, graças ao meu pai), Mago: O Despertar e Changeling: Os Perdidos. Preparando um personagem para jogar com colegas da faculdade, acabei me inspirando e escrevendo o texto abaixo como uma introdução, um prelúdio para a história que se desenvolveria. Conforme as idéias forem surgindo, e o jogo for se desenrolando, espero conseguir escrever continuações.

Espero que gostem!

***

“DESPERTAR

Quando tudo parou de rodar, Marcus levantou a cabeça para olhar para fora do carro capotado. Não se recordava direito do que ocorrera, mas a cena que via era indescritível. Árvores haviam sido arrancadas da lateral da estradinha e despedaçadas, enormes pedaços de troncos jaziam ali espalhados. O próprio chão parecia uma bocarra aberta, expondo suas presas para o céu. Não fazia ideia do que estava acontecendo. Não, ainda não havia acabado. Um barulho terrível se fazia lá fora, e era impossível saber de onde vinha, por causa da tontura, talvez. O cheiro de sangue, seu sangue, se misturava com o da gasolina vazando ao seu lado, e fez com que Marcus sentisse uma súbita vontade de escapar dali o mais rápido possível.

Por sorte conseguira soltar a fivela do cinto de segurança com certa tranquilidade, mas rastejar através da janela sobre centenas de cacos de vidro não seria tão fácil assim. Centímetro a centímetro, ele se arrastou para fora das ferragens, sentindo como se um milhão de agulhas fossem enterradas em sua pele e logo retiradas. Os ruídos aumentavam, e agora ele conseguia distinguir mais claramente os sons. Percebeu com horror a bizarra mistura de rosnados guturais com riso de várias crianças. Nada daquilo fazia sentido para ele, mas a dor interminável o impedia de raciocinar claramente. Olhou finalmente para suas pernas, apenas para descobrir o que grandes farpas de metal retorcido eram capazes de fazer com sua pele.

Tentou se levantar, mas parecia uma tarefa impossível. Rastejou para a estreita faixa de pedregulhos e madeira destroçada que margeava a estrada arruinada, e procurou uma posição em que seu corpo doesse menos. Não encontrou. Vasculhou os bolsos da calça em busca de seu celular, mas logo viu que o aparelho estava quebrado devido ao acidente.

O ruído aumentava, e era assustador. Marcus não sabia se suas mãos tremiam de medo ou por causa do estado de choque em que se encontrava. Enquanto tentava focar a visão, o rosnado e os risos silenciaram subitamente, e ele percebeu farfalhar nas árvores à frente, que não haviam sido arrancadas do chão. O farfalhar se aproximava, e logo surgiu do meio da vegetação um rapaz de feições estranhas, embora não desse pra dizer o que havia de errado com sua aparência. Marcus olhou para o rapaz, que parecia exausto e apavorado, e tentou avisar do carro capotado e da gasolina vazando, mas algo chamou a atenção de ambos.

Conseguiu identificar alguns elementos do que via, pelos de animal, garras, presas, olhos grandes e amarelos, mas de alguma forma o rosto lembrava o de uma criança pequena. Não fazia sentido, nada fazia sentido. A criatura ergueu a cabeça e gritou, o que parecia o lamento de uma criança frustrada misturado com o uivo de um lobo. O rapaz caiu no chão, tapando os olhos com as mãos, em desespero. Marcus fechou os olhos instintivamente.

preview009Quando os abriu de novo, estava em um lugar completamente diferente. Um salão amplo, repleto de pilares de madeira, com piso também de madeira e paredes de pedra. Algumas janelas estreitas e altas permitiam a entrada da luz, que à princípio era ofuscante. Caminhou pelo salão vazio, passou por entre pilares, aproximou-se de uma parede, e pôde perceber que as pedras que a compunham não eram lisas. Em cada palmo de parede, nomes e mais nomes estavam entalhados, rabiscados, esculpidos. Alguns ele conseguia ler, outros estavam em línguas desconhecidas, e outros ainda nem pareciam ser feitos de letras, mas ele sabia que eram nomes. Acompanhou a parede com atenção por vários metros, e encontrou um lugar vazio. Percebeu que sabia o que deveria fazer, sempre soube o que deveria fazer. Sujou os dedos no sangue de um de seus vários ferimentos, e rabiscou seu nome na parede decididamente, traço a traço. Quando terminou, olhou para trás e viu uma porta, também de madeira, entalhada com temas de gavinhas, espinhos, videiras e folhagens. Estava entreaberta, mas pela fresta só se via escuridão. Respirou fundo, empurrou a porta e entrou.

Estava de volta à beira da estrada, mas o torpor do medo não mais tomava conta de seu corpo. Num impulso, levantou, correu mais rápido do que a razão permitia acreditar, na direção do rapaz. Agarrou-o pelo braço e o ajudou a se levantar. Sentiu os terríveis olhos amarelos se encherem de fúria atrás de si, mas continuou correndo para longe dali. O monstro inominável não o seguiu e, embora por grande trecho do caminho percorrido ele ainda sentisse aquele fedor horrível de pelo molhado, sabia que estava novamente em segurança. Não sabia o que havia acontecido, nem o que estava pela frente mas, por enquanto, estavam seguros.”

Gostaram? Não gostaram?

Por favor, não sejam muito cruéis em seus comentários.

Stardust – O Mistério da Estrela

“Song

Go, and catch a falling star,
Get with child a mandrake root,
Tell me, where all past years are,
Or who cleft the Devil’s foot,
Teach me to hear mermaids singing,
Or to keep off envy’s stinging,
And find
What wind
Serves to advance an honest mind.

If thou be’est born to strange sights,
Things invisible to see,
Ride ten thousand days and nights,
Till age snow white hairs on thee,
Thou, when thou return’st, wilt tell me
All strange wonders that befell thee,
And swear
Nowhere
Lives a woman true, and fair.

If thou find’st one, let me know,
Such a pilgrimage were sweet,
Yet do not, I would not go,
Though at next door we might meet,
Though she were true when you met her,
And last, till you write your letter,
Yet she
Will be
False, ere I come, to two, or three.”

—John Donne, 1572-1631

Publicado pela Editora Rocco, com 280 páginas.

Publicado pela Editora Rocco, com 280 páginas.

Escrito em 1998 por Neil Gaiman, Stardust (no Brasil, lançado com o subtítulo O Mistério da Estrela) nos apresenta o pacato vilarejo vitoriano de Muralha, seus habitantes e ao fato de que durante um dia e uma noite a cada nove anos, esse vilarejo se torna a passagem para um mundo extraordinário e feérico. E eis que nesse dia, Dusntan Thorn, um habitante de Muralha, atravessa para o outro lado e se maravilha com coisas, pessoas e criaturas que nunca sonhara ver. E uma noite, nove meses depois, Dunstan e sua esposa acordam, e encontram num cesto deixado em sua porta, uma criança e um bilhete com seu nome escrito “Tristran Thorn”.

Tristran cresce, e apesar de todos notarem algumas diferenças nele, uma de suas orelhas parecia a de um gato, foi criado como qualquer outra criança do lugarejo. Aos dezessete anos, Tristran e Victoria Forester, garota pela qual ele e metade dos rapazes do vilarejo eram apaixonados, presenciam a queda de uma estrela cadente. E a queda dessa estrela seria o gatilho para diversos acontecimentos: uma promessa impensada, uma busca pela juventude e uma competição sangrenta por um trono. E tudo isso só piora quando Tristran descobre que a estrela é uma garota, chamada Yvaine, e não um objeto inanimado que possa ser dado de presente.

Capa da versão ilustrada.

Capa da versão ilustrada.

Com a identidade literária de Gaiman presente em cada parágrafo, Stardust é uma viagem nas histórias de fantasia. É um conto de fadas para adultos. São claramente perceptíveis as regras não declaradas presentes nos contos de fadas. A importância de uma promessa, o valor de um presente, o débito de vida, a necessidade de uma vingança. Os arquétipos dos personagens aplicados de maneira clara e ao mesmo tempo sutil. A tênue linha que separa a inocência e a crueldade nos contos infantis está presente o tempo todo na narrativa.

Stardust conta uma história capaz de fazer com que você pense já conhecer algo parecido, ainda que nunca tenha lido nada parecido. A quantidade de elementos conhecidos, em situações familiares, faz com que isso aconteça. Cantigas infantis rimadas, que mostram ter grande poder no mundo feérico quando usadas no momento certo. As três grandes e velhas bruxas, que estão atrás da estrela, podem ser encontradas em diversas mitologias, como as Moiras da mitologia grega e as Norns da mitologia nórdica. Tal qual as histórias mitológicas, os personagens não são bonzinhos ou malvados. Todos são capazes de cometer atos bons e ruins. Não existe a necessidade de um vilão para o andamento da trama, embora alguns personagens adotem esse papel em momentos diferentes.

Yvaine, a Estrela

Yvaine, a Estrela

Um livro ótimo, que em 2007 deu origem à um filme legal, mas que infelizmente cai na armadilha de alguns produtores e foge da proposta inicial do autor, porém sem perder completamente o espírito da obra. Cabe a você analisar as grandes diferenças e pensar em que estilo te agrada mais.

Também ganhou uma versão ricamente ilustrada por Charles Vess, vale a pena conferir.

Veja o trailer do filme (não achei uma versão legendada):

Azincourt

Capa da edição nacional, publicada pela Editora Record.

Capa da edição nacional, publicada pela Editora Record.

Escrito por Bernard Cornwell, um renomado escritor britânico, e amplamente conhecido por sua série Crônicas Saxônicas e pela trilogia As Crônicas de Arthur, Azincourt é um romance que conta a história de um personagem fictício inserido em fatos e acontecimentos históricos reais.

Nele, seguimos a história de Nick Hook, um jovem guarda-caça inglês, filho bastardo não declarado de um nobre menor, cuja habilidade com o arco longo é notável. Envolvendo-se na execução de um grande grupo de hereges em uma pequena comunidade junto à pessoas que odeiam sua família, Tom e Robert Perril e o padre Martin, pai dos rapazes, Hook tenta ajudar uma garota cujo pai acabara de ser enforcado. Tentando protegê-la de uma tentativa de estupro por parte do padre Martin, Nick Hook acaba sendo declarado fora-da-lei e é obrigado a fugir, abandonando sua avó e seu irmão mais novo Michael.

Capa original, da editora Harper Collins.

Capa original, da editora Harper Collins.

Hook se junta à uma companhia de arqueiros mercenários, e parte para a Soissons, onde franceses cercam a cidade dominada por borgonheses  Após um verdadeiro massacre, Hook escapa com a ajuda de São Crispim e São Crispiniano, padroeiros da cidade de Soissons, cujas vozes ele ouve em sua cabeça. Durante a fuga, ainda salva uma garota francesa, que passa a acompanhá-lo.

Alcançando novamente a Inglaterra, é acolhido em um castelo, onde é interrogado e os relatos da batalha se mostram úteis para a campanha de guerra promovida por Henrique V. Logo, suas habilidades são reconhecidas e Nick passa a integrar a companhia de arqueiros e homens-de-armas de Sir John Cornewaille, que une-se ao confiante rei inglês em sua luta para tomar o trono francês, seu por direito.

As descrições de batalha do livro são excepcionais. Em dados momentos, é como se fosse possível ouvir o arco sendo retesado, e o zunido da flecha disparada. A fidelidade histórica é marcante, e o dinamismo da narrativa faz com que o leitor voe junto com a flecha. Escrito com base em detalhada pesquisa, o livro se mostra capaz de entreter e ao mesmo tempo ensinar. O leitor mais interessado pode aproveitar muito a descrição da batalha, da estratégia, do terreno, e de como diversos fatores contribuem para o resultado de uma guerra travada sem as armas modernas.

Durante grande parte da guerra, os ingleses são acometidos pela doença, pela rotina exaustiva do cerco à uma cidade, pelo perigo que envolve a operação de um canhão medieval.

arqueiroA batalha travada em Azincourt no dia de São Crispim  25 de outubro, tornou-se famosa pelo contraste gritante entre o exército francês e o inglês. O primeiro contava, segundo estudos, com aproximadamente trinta e cinco mil homens. Já o exército inglês, naquele momento, estava reduzido à uma força de pouco mais de seis mil homens. sendo aproximadamente cinco mil deles arqueiros. O exército inglês, doente, exausto e quase sem suprimentos, eram liderados e motivados pelo rei em pessoa, que tem sua capacidade de liderança retratada por diversos autores, incluindo Shakespeare. Outro detalhe é a superioridade estratégica oferecida pelos arcos longos. Um arqueiro era capaz de atirar por volta de 12 flechas por minuto, ou seja, mil flechas acertavam o exército francês em marcha por minuto. O arco longo era moda na Inglaterra, onde aconteciam os famosos torneios de tiro, e eram armas extremamente baratas, feitas apenas por madeira, osso ou chifre e cordas de cânhamo. Nenhum outro exército contava com tantos arqueiros, visto que o manejo adequado do arco levava anos para ser dominado.

Os franceses costumavam cortar os dedos indicadores e médio dos arqueiros derrotados, para que se tornassem incapazes de atirar novamente com um arco. Inclusive provocavam os arqueiros mostrando a mão fechada com o dedo médio erguido, simbolizando alguém com os dedos decepados. Ao fim da batalha de Azincourt, diz-se que os arqueiros mostravam os dois dedos para os franceses, como uma resposta ao desafio anterior, o que deu origem aos sinais obscenos de se mostrar o dedo médio, e o equivalente com os dois dedos usados na Inglaterra.

Depois do Epílogo, o livro de 462 páginas conta com um apêndice, onde o autor embasa sua narrativa em pesquisas históricas, justifica algumas mudanças livremente feitas por ele e contextualiza todos os fatos, reais ou fictícios, na história como é contada hoje. Ainda diz que todos os nomes utilizados na obra foram retirados de registros das listas do exército de Henrique V, ainda existentes no Arquivo Nacional da Inglaterra.

Posso recomendar a leitura de Azincourt, sem qualquer receio.

***

 

Ajude-me a divulgar meu blog! Clique no botão abaixo para que o Blogarama aceite meu cadastro rapidamente!

Blogarama - The Blog Directory

Star Wars: A Última Ordem – The Last Command

Último volume da série, publicado no Brasil em 1995.

Último volume da série, publicado no Brasil em 1995.

Último texto sobre Star Wars, pelo menos por enquanto!

Em A Última Ordem, terceiro e último livro da trilogia iniciada em Herdeiros do Império, o quase onisciente Almirante Thrawn faz os preparativos finais para o derradeiro ataque à Nova República. De posse de uma tecnologia secreta de camuflagem, da maior parte da Frota Katana, de uma estação de clonagem inteira e colaborando com um mestre Jedi maligno, o almirante considera-se plenamente capaz de derrubar os rebeldes e reinstaurar o Império.

Um a um, diversos sistemas caem ou se rendem ao avanço do Império. Atacando diversos pontos estratégicos, como planetas produtores de alimento, o Império pouco a pouco abaixam a moral das tropas da Nova República.

Os ysalamiri, pequenos répteis que repelem a Força.

Os ysalamiri, pequenos répteis que repelem a Força.

Pressionado por C’Baoth, o almirante Thrawn organiza um ataque surpresa à Coruscant, a capital do novo governo. Com o General Bel Iblis, o Esquadrão Rogue e grande parte da força combativa da Nova República combatendo nos sistemas de fronteira, o planeta é alvo fácil para a nova arma de cerco planetário do almirante (que eu achei genial), e fica temporariamente fora do jogo de poder. Durante esses eventos, Leia dá à luz ao gêmeos Jacen e Jaina, posteriormente usados como protagonistas de mais ou  menos dezenove livros do Universo Expandido.

Devido aos repetidos fracassos do Império em capturar Leia e seus gêmeos, a tensão entre o Jedi maligno C’Baoth e o almirante crescem até um ponto em que não é seguro manter o Jedi por perto, e o mesmo é deixado no planeta onde foi encontrado pela primeira vez, Wayland, localização de um depósito secreto de tecnologia do Imperador. Enchendo a fortificação com os ysalamiri, Thrawn acredita ter neutralizado o Jedi maligno por tempo suficiente até que ele não seja mais necessário.

Presos em Coruscant, e sem opções no momento, Leia e Ghent, um jovem hacker da equipe de Talon Karrde, focam todos seus esforços na tarefa de descobrir quem ou o que está vazando informações confidenciais para o Império (e colaborando para a até então inexplicável onisciência de Thrawn). Por fim, localizam e eliminam a Fonte Delta, como era chamada pelo último.

Karrde e seu grupo de aliados contrabandistas.

Karrde e seu grupo de aliados contrabandistas.

Karrde por sua vez, parte para diversos pontos da Galáxia tentando convocar seus conhecidos contrabandistas e fazer com que aceitem coletar informações e vender para a Nova República, apesar de toda a desconfiança colocada sobre eles. Karrde começa a entender e sentir-se na pele de Han Solo durante os eventos que levaram-no a colaborar com a destruição da primeira Estrela da Morte. Escapando de uma série de armadilhas e traições, Karrde consegue organizar um grupo unido o suficiente, e tem papel chave na libertação de Coruscant.

O grupo, se infiltrando no Monte Tantiss.

O grupo, se infiltrando no Monte Tantiss.

Mara Jade, Luke, Han Solo, Chewie, Lando e os dróides partem à bordo da Millennium Falcon rumo ao planeta secreto de Wayland, graças aos conhecimentos resultantes do passado sombrio de Mara Jade como agente secreta do Imperador. Os sete tem a missão de, sozinhos, infiltrarem-se na fortaleza do Monte Tantiss e sabotar a estação de clonagem do Império. Durante os dias em que se aproximam do Monte Tantiss, Luke começa a aprimorar o treinamento Jedi de Mara Jade, ensinando-a a controlar a força mais sutilmente, e a manejar o sabre-de-luz. Jade enquanto isso luta interiormente para entender seus sentimentos conflitantes em relação a Skywalker, e tem pesadelos constantes sobre o momento da morte do Imperador.

Pesadelos recorrentes de Mara Jade, onde ela presencia, impotente, a morte do Imperador Palpatine.

Pesadelos recorrentes de Mara Jade, onde ela presencia, impotente, a morte do Imperador Palpatine.

Como não poderia deixar de acontecer, temos um belo combate de sabres-de-luz, na edição que eu li traduzidos como sabre-laser. Mara e Luke enfrentam um desafio à altura, que os deixam ocupados e incapazes de ajudar seus aliados. Lando e Chewie combatem os soldados imperiais, e recebem reforços inesperados de Leia e Karrde, mais um pequeno mas eficiente bando de guarda-costas noghri.

C'baoth_lightningO confronto final com C’Baoth é terrível e inevitável. Mara finalmente supera seu passado e liberta sua mente da influência do Imperador.

Presenciamos também o confronto final entre as frotas da Nova República e do Império, onde ambos reuniram quase a totalidade de suas forças. O previsível mas bem construído fim do Grande Almirante Thrawn desarticula completamente a organização da frota imperial, que é forçada a bater em retirada, e uma vitória bastante significativa da Nova República é conquistada.

Luke, que em certo ponto recuperara o sabre-de-luz azul perdido no duelo contra Darth Vader no Episódio V – O Império Contra-Ataca, confia-o à Mara Jade, e passa a sentir-se preparado para continuar ensinando sua irmã, seus sobrinhos e com o tempo reconstruir a Ordem Jedi.

Ufa… Terminei. Quase 1200 páginas resumidas em três pequenos textos. Gostaria de ter acesso a mais livros do Universo Expandido, e continuar acompanhando a história desses personagens que o cinema dos anos 70/80 nos ensinou a gostar. Mas vou dar um tempo por enquanto, e procurar algo diferente para ler semana que vem.

Pilotos do Esquadrão Rogue.

Pilotos do Esquadrão Rogue.

Curiosidades:

  • O planeta sede do governo, Coruscant, apareceu pela primeira vez nessa série de livros, e foi adotado como material oficial por George Lucas em sua nova trilogia.
  • A Trilogia Thrawn ganhou versão em quadrinhos pela Dark Horse Comics, adaptada pelo roteirista Mike Baron.
  • Zahn escreveu mais livros, continuando e encerrando a guerra contra o Império e dando continuidade ao romance entre Luke Skywalker e Mara Jade, chamados Specter of the Past e Vision of the Future, conhecidos como a série Hand of Thrawn. Já o casamento dos dois personagens acontece na história em quadrinhos Star Wars: Union.
  • Zahn assinou a minissérie em quadrinhos Mara Jade – By the Emperor’s Hand, que revela detalhes do passado sombrio da personagem.

Obrigado pela paciência e por aguentarem três publicações seguidas sobre praticamente o mesmo tema. Estava empolgado…

***

 

Ajude-me a divulgar meu blog! Clique no botão abaixo para que o Blogarama aceite meu cadastro rapidamente!

Blogarama - The Blog Directory

Star Wars: O Despertar da Força Negra – Dark Force Rising

Segundo volume da trilogia, publicado em 1993.

Segundo volume da trilogia, publicado em 1993.

Segundo livro da Trilogia Thrawn, O Despertar da Força Negra começa imediatamente após o primeiro. O Grande Almirante Thrawn busca vingar-se de Talon Karrde por sua colaboração na fuga de Luke Skywalker da armadilha preparada pelo Império, destruindo sua base de operações principal, no mesmo planeta onde Luke e Mara Jade tiveram de sobreviver alguns dias na floresta habitada pelas criaturas que suprimem a Força.

Karrde e seu grupo entretanto, já prevendo a óbvia retaliação, escaparam momentos antes, e esconderam sua nave, a Wild Karrde em alguns asteroides próximos ao planeta. Nesse momento, Jade pressente o perigo através da Força, e faz com que o grupo fuja do esconderijo improvisado no último instante, escapando de mais uma das armadilhas convenientemente planejadas de Thrawn.

Chewie e Leia escapando de um ataque em Kashyyyk.

Chewie e Leia escapando de um ataque em Kashyyyk.

Leia, após retornar de sua breve estadia em Kashyyyk, onde foi novamente emboscada por um grupo dos mesmos alienígenas felinos que descobriu pertencerem ao povo noghri, leal ao Império, resolve fazer uma visita diplomática ao planeta dos mesmos e tentar trazê-los para o lado da Nova República. Novamente, o quase onipresente vilão da trilogia resolve fazer uma inspeção ao planeta justamente quando Leia se encontra lá. Eventos parecidos acontecem durante toda a história, o que me deixou novamente desapontado com a narrativa. Aparentemente, o autor recebeu algumas críticas quanto a esses defeitos entre a publicação do primeiro e do segundo livros. A perseguição ainda é óbvia e conveniente, mas dessa vez os heróis conseguem antever alguns de seus atos, e estar um ou dois passos a frente do almirante.

Han Solo e Lando viajam pela galáxia na tentativa de encontrar provas da inocência de um dos líderes da Nova República, que sofria constantes acusações de traição, e corria o risco de sofrer um golpe de estado. Nessas viagens, acabam encontrando um personagem que se tornaria famoso em publicações subsequentes do Universo Expandido, inclusive aparecendo em jogos de videogame. Após entrarem em contato com o Senador Bel Iblis, descobrem que a lendária Frota Katana, também chamada de Força Negra (composta por quase duzentos cruzadores gigantescos) realmente existe, e pode ser recuperada para uso da república. Mais uma vez, a onisciência do almirante Thrawn o coloca atrás do mesmo objetivo de Solo e Lando, no que acaba virando uma corrida pela localização da frota perdida.

O Senador corellian Garm Bel Iblis, Hal Solo e Lando, observando projeções da Frota Katana.

O Senador corellian Garm Bel Iblis, Hal Solo e Lando, observando projeções da Frota Katana.

Nesse meio tempo, Luke entra em contato com o Jedi do Mal C’Baoth, sem suspeitar de suas verdadeiras intenções, e encontra-se com ele no planeta Jomark. Depois de algumas demonstrações de grande ambição por poder, egoísmo e loucura, além de algumas utilizações de poderes do Lado Negro da Força, Luke percebe que C’Baoth é mal intencionado, e começa a se preocupar em trazê-lo de volta como fizera com seu pai. As coisas não vão tão bem, e Luke acaba sendo resgatado por Mara Jade, que passa por um grande conflito entre matar ou não Skywalker.

O "Jedi do Mal", Joruus C'Baoth.

O “Jedi do Mal”, Joruus C’Baoth.

Mara Jade, que descobrimos ser uma antiga agente especial do Imperador, e que perdeu a identidade e a razão de viver quando não tinha mais a quem servir. Jade tem visões constantes do Imperador sendo assassinado por Luke e Darth Vader, e lembra-se claramente de que deveria matar o Cavaleiro Jedi.

O livro termina no mesmo tom de O Império Contra Ataca, com a Nova República sofrendo uma derrota ao perder a Frota Katana para o Grande Almirante Thrawn. Porém, nem tudo parece perdido, já que o Império carece números em suas fileiras para operar todas as naves recém-adquiridas. Luke não tem tanta certeza de que existe muita esperança, devido a um encontro com uma tropa de soldados clones, que não eram mais vistos há anos.

Com a curva dramática lá em cima, a expectativa pelo terceiro livro e a conclusão da história se torna inevitável. Novamente, apesar do desesperador Deus Ex Machina presente no livro, a leitura empolgou, tanto é que comecei a ler o terceiro logo em seguida, e terminei dois dias depois.

***

 

Ajude-me a divulgar meu blog! Clique no botão abaixo para que o Blogarama aceite meu cadastro rapidamente!

Blogarama - The Blog Directory

Star Wars: Herdeiros do Império – Heir to the Empire

Capa nacional da edição publicada em 1993. Star Wars ainda era traduzido como Guerra nas Estrelas.

Capa nacional da edição publicada em 1993. Star Wars ainda era traduzido como Guerra nas Estrelas.

Como admirador dos filmes Star Wars que sou, não pude deixar de aproveitar quando encontrei recentemente na internet a série de livros considerada a mais importante do Universo Expandido (que consiste em livros, quadrinhos e jogos, devidamente licenciados pela Lucasfilm) da franquia. Conhecida pelos fãs como Trilogia Thrawn, é composta por três romances: Herdeiros do Império (Heir to the Empire), O Despertar da Força Negra (Dark Force Rising) e A Última Ordem (The Last Command).

Já vou avisando que toda a série é muito melhor aproveitada se você já assistiu todos os filmes da Trilogia Clássica.

A trilogia começa cinco anos após a destruição da segunda Estrela da Morte, que acontece no Episódio VI – Retorno de Jedi. Luke, Leia e Han Solo voltam aos papéis principais, participando do estabelecimento da Nova República, modelo de governo defendido pela Aliança Rebelde desde sua criação, quase trinta anos antes.

Somos apresentados à um período complicado para a Nova República, que disputa constantemente com os oficiais remanescentes do Império a lealdade de cada planeta, em cada sistema. Entretanto, o ressurgimento de um Grande Almirante Imperial, nomeado pelo próprio Imperador, começa a desequilibrar mais uma vez a balança, e ameaçar o crescimento do novo governo. Thrawn é o único não-humano dos doze Grande Almirantes originais, escolhidos a dedo pelo xenófobo Imperador Palpatine como seus oficiais mais altos. Um grande e frio estrategista militar, capaz de identificar as fraquezas e prever atitudes e reações de seus inimigos através da análise das obras de arte de sua raça, e uma das maiores personificações do termo Deus Ex Machina que já vi em minha vida. Explico mais tarde.

Thrawn, o alien azul de olhos vermelhos que comanda os remanescentes do Império.

Thrawn, o alien azul de olhos vermelhos que comanda os remanescentes do Império.

Vários personagens originais, além do próprio Thrawn, são introduzidos nesse livro também, sendo os mais importantes o contrabandista Talon Karrde, cuja organização criminosa cresceu espantosamente após a morte de Jabba, e sua principal assistente Mara Jade, segunda em comando de sua organização, e dona de um passado misterioso.

Han Solo tenta contatar seus antigos amigos contrabandistas para que trabalhem como transportadores de carga para a Nova República, sem muito sucesso. Leia, grávida de gêmeos, tenta dividir seu tempo entre o treinamento Jedi e as missões diplomáticas confiadas a ela. Já Luke alcançou maior amadurecimento de suas habilidades como Jedi, mas ainda sente-se um pouco perdido, e preocupa-se se será capaz de orientar corretamente o treinamento dos sobrinhos.

Acompanhamos Thrawn em sua busca por tecnologias escondidas pelo Imperador em um planeta desconhecido, e seu encontro com um Lorde de Sith (no livro lançado em 1992, ainda chamado de Evil Jedi, ou Jedi do Mal) completamente insano chamado Joruus C’Baoth. Thrawn, de posse de criaturas capazes de repelir a Força, consegue forjar uma frágil aliança com o velho maluco, em troca de oferecer Luke, Leia e os gêmeos para serem seus discípulos. C’Baoth assume a função de coordenar os ataques espaciais através do uso da Força, controlando as mentes dos pilotos e sincronizando suas ações com perfeição. Tudo isso, entretanto, a Nova República desconhece, e começa a sofrer derrotas significativas para o Império.

Escapando por um triz de uma armadilha de Thrawn, Luke acaba caindo no planeta onde se localiza o centro de operações de Karrde. Após alguns acontecimentos, ele e Mara Jade, que nutre um misterioso ódio por Skywalker, acabam tendo de se aliar para sobreviver nas florestas do planeta, de onde Thrawn retirou as criaturas que bloqueiam o uso da Força, os ysalamiri.

Talon Karrde, o contrabandista.

Talon Karrde, o contrabandista.

Convenientemente, Han Solo e Lando chegam ao planeta mais ou menos nesse momento, conseguem um acordo com Karrde e resgatam Luke e Jade das tropas imperiais que o perseguiam.

Leia, por outro lado, é perseguida de planeta em planeta por uma raça de felinos humanoides que trabalham para o Império. Como aparentemente eles estão sempre um passo à sua frente, ela começa a suspeitar de que algo ou alguém esteja vazando informações confidenciais do conselho de guerra da Nova República para o Império.

O livro termina numa pequena mas importante batalha espacial, com uma vitória sofrida da Nova República e preparando terreno da continuação.

A experiência de ler o livro foi motivo de bastante conflito interno de opiniões para mim. Por um lado, entrar em contato com uma história inédita de uma série que eu gosto, foi bastante interessante. Reencontrar personagens familiares como os integrantes do Esquadrão Rogue, conhecer novos personagens que se tornam importantes, revisitar cenários já conhecidos, tudo isso dá força à obra. Mesmo que apenas para fãs dos filmes.

A misteriosa Mara Jade.

A misteriosa Mara Jade.

Entretanto, o livro foi pelo menos para mim, bastante previsível. O gênio militar do Grande Almirante Thrawn pode ser explicado como o uso abusivo de um recurso chamado Deus Ex Machina, que é quando o autor manipula a história de tal forma que os acontecimentos favorecem um personagem sem muita explicação. Tudo parece acontecer convenientemente a favor do personagem, e em dados momentos parece que o mesmo é capaz de estar em vários lugares ao mesmo tempo. Outro ponto negativo é a perda do humor característico de alguns personagens, com Han Solo, que se tornou “respeitável” e entediante, e a má utilização dos droides, notadamente utilizados como alívio cômico nos filmes.

Apesar de tudo, foi uma leitura agradável no final das contas, já que acrescentou mais do que gerou desgosto por alguns problemas narrativos. Ainda assim, reconheço que o livro não tem apelo para os leitores não familiarizados com os filmes da série de cinema.

Obviamente, não pude deixar de ler as continuações logo em seguida, e acabei lendo os 3 livros em quatro ou cinco dias. Ainda essa semana publicarei um texto sobre cada uma delas aqui.

Escrito por Timothy Zahn em 1992, publicado no Brasil em 1993 pela Editora Best Seller em edição de 373 páginas.

***

 

Ajude-me a divulgar meu blog! Clique no botão abaixo para que o Blogarama aceite meu cadastro rapidamente!

Blogarama - The Blog Directory

O Restaurante no Fim do Universo – The Restaurant at the End of the Universe

Segundo volume da série Mochileiro das Galáxias

Segundo volume da série Mochileiro das Galáxias

“Existe uma teoria que diz que, se um dia alguém descobrir exatamente para que serve o Universo e por que ele está aqui, ele desaparecerá instantaneamente e será substituído por algo ainda mais estranho e inexplicável.

***

Existe uma segunda teoria que diz que isso já aconteceu.”

Continuação direta de O Guia do Mochileiro das Galáxias, O Restaurante no Fim do Universo é o segundo volume da trilogia de cinco livros escrita por Douglas Adams. Neste livro, seguimos acompanhando as aventuras de Arthur, Trillian, Ford, Zaphod e Marvin, logo após o desastroso acidente envolvendo alguns ratos brancos e uma frota de demolição Vogon.

Numa tentativa desesperada de conseguir um pouco de chá para beber, Arthur acidentalmente acaba desviando toda energia e poder de processamento dos computadores da nave Coração de Ouro para o sintetizador de alimentos. Nesse momento de completa vulnerabilidade, são atacados por perseguidores Vogons, e seriam destruídos em apenas 4 minutos. Os quatro minutos mais longos da história do Universo, graças à sessão espírita iniciada por Zaphod, o Presidente da Galáxia, dentro da mesma nave, e a intervenção temporal do espírito de seu bizavô.

Sim, o segundo livro é ainda mais confuso e bizarro que o primeiro. Pelo menos para mim, a história ficou em segundo plano. Sempre que virava uma página, ou avançava um capítulo, esperava por um trecho do Guia, aprofundando um pouco mais o universo criado pelo autor, e revelando suas filosofias muitas vezes ácidas à respeito do mundo real, disfarçado por todo o cenário maluco criado pelo mesmo.

Em algumas páginas descobrimos o que o autor pensa sobre religião, política, a insignificância do homem com relação a infinitude do universo, mas uma das melhores definições é sobre a banda de rock fictícia Disaster Area, que deixa muito claro o desgosto do mesmo sobre rock:

“O Guia do Mochileiro das Galáxias diz que a Disaster Area, uma banda de rock plutoniano das Zonas Mentais de Gagrakacka, é geralmente tida não, apenas como a mais barulhenta de toda a Galáxia, mas também como o maior de todos os barulhos. Os frequentadores habituais dos shows dizem que o melhor lugar para se ouvir um bom som é dentro de grandes bunkers de concreto a uns 60 quilômetros do palco, enquanto os músicos em si tocam os instrumentos por controle remoto a partir de uma espaçonave altamente isolada que fica em órbita em torno do planeta – ou, mais frequentemente, em torno de um planeta completamente diferente. Suas músicas são no geral bastante simples e a maioria segue o tema familiar do ser-masculino que encontra um ser-feminino sob uma lua prateada, que depois explode sem nenhum motivo aparente.”

E as descrições dos efeitos de um show num planeta desértico são descritos de forma parecida. Conta que os poucos sobreviventes da apresentação testemunharam toda a areia do deserto se erguer no céu como uma panqueca de um quilômetro de espessura, que virou e caiu de volta no solo. Um ano depois, aquela região do planeta estava coberta por uma exuberante floresta.

Outro ponto legal da narrativa é o momento em que os personagens se encontram dentro do Restaurante Milliways, localizado no final da linha do tempo. Lá os personagens podem almoçar tranquilamente, sabendo que suas contas foram pagas milhares de anos atrás, ao depositarem um centavo na conta bancária do restaurante e deixarem a correção monetária se encarregar do resto. Enquanto fazem seus pedidos, os personagens conhecem um boi, manipulado geneticamente durante sua concepção para que fosse a favor de ser morto para virar alimento, contrariando todas as expectativas de centenas de milhares de habitantes da Galáxia que optam pelo vegetarianismo. O boi chega até mesmo a indicar quais partes de seu corpo estão mais apetitosas.

Essa cena está presente inclusive, na bizarra adaptação da história feita para a tv pela BBC, o boi sendo misteriosamente substituído por um porco:

O livro ainda conta com várias outras passagens memoráveis, como a passagem de Zaphod pelo planeta mais perigoso da Galáxia, seu posterior encontro com o Homem que Comanda Tudo, algumas viagens desastrosas no tempo que acabam obrigando Marvin a aguentar a eternidade umas duas vezes, e o encontro de Arthur e Ford com nossos ancestrais primitivos.

Muitos acontecimentos nonsense num livro de apenas 173 páginas. Vale a leitura.

***

 

Ajude-me a divulgar meu blog! Clique no botão abaixo para que o Blogarama aceite meu cadastro rapidamente!

Blogarama - The Blog Directory

Alta Fidelidade – High Fidelity

Passei as duas últimas semanas lendo um livro emprestado por um grande amigo. Comecei diversas vezes e nunca cheguei no final, até hoje. Alta Fidelidade é um romance inglês, escrito por Nick Hornby e publicado em 1995.

alta fidelidadeCompletamente despretensioso, o romance narra de forma bem humorada e objetiva a vida e o estado de espírito de Rob Fleming imediatamente depois de sua separação de sua namorada Laura. Acontece que Rob não é o homem idealizado pelas mulheres, que faria de tudo por sua “musa inspiradora”. Ele é mais real, cheio de medos e inseguranças, e se esconde atrás de uma enorme coleção de discos, e suas intermináveis listas de Top 5. Tanto que o livro começa com Rob fazendo a lista das Cinco Piores Separações que já viveu, e insiste em dizer que Laura não se encontra entre elas.

Rob é um viciado em música pop, capaz de julgar as pessoas pelos discos que ouvem. Consegue ver no simples ato de gravar uma fita para alguém, um milhão de significados. É dono de uma loja de vinis quase falida, e seus dois funcionários, Dick e Barry, completamente estranhos e antagônicos. O primeiro extremamente introspectivo e tímido, e o segundo muitas vezes agressivo e invasivo. A dinâmica entre Rob e seus funcionários rende alguns dos melhores diálogos do livro, e com certeza grandes indicações de músicas, que você deveria procurar conhecer.

“Enfim, aqui está como não planejar uma carreira: a) separe-se de uma namorada; b) largue a faculdade; c) vá trabalhar numa loja de discos; d) fique em lojas de discos o resto da vida. Você pega aqueles retratos das pessoas em Pompéia e pensa, que estranho: um jogo de dados depois do chá e você é congelado, e é assim que as pessoas lembram de você nos próximos milhares de anos. Suponhamos que fosse o primeiro lance de dados que você jogasse na vida? Suponhamos que você só estivesse jogando para fazer companhia ao seu amigo, o Augustos? Suponhamos que naquele exato momento tivesse acabado um poema brilhante, ou algo assim? Não seria irritante ser celebrado como um jogador de dados? Às vezes eu olho para a minha loja (sim, porque eu não fiquei marcando bobeira nesses últimos catorze anos! Há uns dez anos peguei dinheiro emprestado e abri minha própria loja!) e para os meus fregueses habituais de sábado, e sei exatamente como aqueles habitantes de Pompéia devem se sentir, se é que podem sentir alguma coisa (embora o fato de que não possam seja o que interesse neles).”

John Cusack no papel de Rob Gordon (no filme, não é Rob Fleming) e sua coleção de discos.

John Cusack no papel de Rob Gordon (no filme, não é Rob Fleming) e sua coleção de discos.

Algumas características da narrativa a tornam agradáveis à leitura, como a linguagem informal utilizada em toda sua extensão, os diálogos curtos, monólogos interiores do protagonista, e a transição entre o passado e o presente da história. O autor demonstra alto controle do sarcasmo e ironia, tornando sua obra um retrato nada medíocre da vida de um homem.

Pontos altos da história acontecem quando Rob vai atrás das suas cinco ex-namoradas presentes na lista das cinco piores separações, e o balanço que faz entre a realidade atual delas e o que fantasiava sobre as mesmas. Nota-se durante essas passagens, e durante o breve e incomum relacionamento com uma cantora americana, o relutante crescimento interior do personagem, que em nenhum momento quer admitir que sente falta de Laura.

Algo que me agradou bastante foi o final do livro, que não se parece com qualquer término de livro que eu já tenha lido, deixando vários pontos em aberto, ao mesmo tempo concluindo assuntos importantes. É como o fim de um dia típico de nossas vidas, onde terminamos algumas tarefas, chegamos a algumas conclusões, mas deixamos muitos outros assuntos em aberto.

O livro é publicado pela Editora Rocco, em uma edição de 264 páginas.

Ah, o livro deu origem a um filme igualmente incrível!

Coraline

coraline-poster

“Você realmente não entende, não é? – disse – Eu não quero tudo o que eu quiser. Ninguém quer. Não realmente. Que graça teria ter tudo o que se deseja? Em um piscar de olhos e sem o menor sentido. E daí?”

Edição nacional, pela Ed. Rocco.

Edição nacional, pela Ed. Rocco.

Essa semana reli o livro Coraline, de Neil Gaiman, um dos meus autores favoritos. E me surpreendi como o filme me fez quase esquecer de que o livro é muito mais sinistro que sua versão animada e colorida. A arte de Dave McKean contribui bastante para esta percepção, mas a principal diferença está na narrativa, onde Coraline está sozinha em um mundo perturbadoramente familiar e estranho.

Coraline Jones é uma garotinha que acabou de mudar para um enorme casarão antigo, onde moram várias pessoas em alas fechadas. Suas vizinhas de baixo são duas senhoras que em tempos de juventude foram atrizes de teatro, e hoje vivem de lembranças de seus dias de brilho. O velho do andar de cima é meio biruta, e treina ratos para realizarem truques de circo. Os pais de Coraline estão sempre ocupados, e não dão a atenção que ela gostaria de ter.

Certo dia, Coraline descobre em sua nova casa uma porta que dá para uma parede de tijolos, e fica se perguntando o que haveria do outro lado. Então descobre que durante a noite, os tijolos não estão ali, dando lugar a um corredor escuro, e encontra do outro lado uma casa idêntica à sua, com a mesma mobília e decoração, e uma versão muito mais interessante de sua família e vizinhos.

- É CO-ra-li-ne, não Caroline!

– É CO-ra-li-ne, não Caroline!

A cada visita, Coraline aprende um pouco mais sobre esse outro mundo e sua Outra Mãe, personagem descrita de forma peculiar desde o início do livro, diferente do filme, onde ela muda aos poucos. No livro, o que muda é a percepção da garota quanto à Outra Mãe, e nem tanto a aparência da mesma. O ponto de virada se dá quando a mesma oferece à garota se tornar parte daquele mundo, apenas costurando botões negros sobre seus olhos, características de todos os habitantes daquele lugar.

É também nesse outro mundo que Coraline conhece o gato preto que a acompanharia algumas vezes, e com quem teria alguns dos diálogos mais interessantes de toda obra.

As ilustrações de Dave McKean ajudam a dar o tom sinistro à história.

As ilustrações de Dave McKean ajudam a dar o tom sinistro à história.

“[…]Em pé, sobre o muro próximo a ela, achava-se um gato grande e preto, idêntico ao gato grande e preto que vira no terreno de casa.

– Boa tarde – disse o gato.

Sua voz soava como a voz dentro da cabeça de Coraline, a voz com a qual ela pensava as palavras; mas essa era uma voz de homem, não de menina.

– Olá – disse Coraline. – Eu vi um gato como você no jardim lá de casa. Você deve ser o outro gato.

O gato balançou a cabeça.

– Não – disse. – Não sou o outro coisa nenhuma. Sou eu. – Inclinou a cabeça para o lado, os olhos verdes brilhavam. – Vocês, pessoas, se esparramam por toda parte. Nós, gatos, nos mantemos íntegros, se é que me entende. […]”

O gato é, de longe, o personagem que mais gosto no livro. Suas respostas são ácidas e irônicas, e apesar de parecer não se importar ele passa a ajudar e proteger a garota, à sua maneira, claro.

Outro fato importante é a descoberta das crianças-fantasma, que traz a percepção de qual seria o destino se Coraline aceitasse costurar nos olhos os botões oferecidos pela Outra Mãe. Coraline então aprende o que é a verdadeira coragem, ao enfrentar o perigo tendo conhecimento do mesmo.

coraline104O livro possui elementos muito característicos de toda a obra de Neil Gaiman. A importância das portas e chaves, a grande personalidade dos gatos, o desconhecido perturbadoramente familiar, pequenos toques feéricos que trazem fantasia à história, como a pedra com furo no meio, a menina fantasma com asas de fada, e o fato de trocas, presentes e jogos terem grande relevância para a narrativa. Se você já leu a série de quadrinhos Sandman, ou qualquer outro livro do autor, é impossível que essas características passem em branco.

Se Alice no País das Maravilhas é um livro infantil para adultos, Coraline é exatamente o contrário: um livro adulto para crianças.

Comprei esse livro alguns anos atrás numa banca na rodoviária da Barra Funda, com a intenção de dar de presente ao meu irmão. Li dentro do ônibus durante a viagem, e pensei que talvez  o livro ficasse melhor na minha prateleira. De fato, ficou.

A animação mantém grande parte do espírito do livro, mas com algumas mudanças importantes, como a adição de um personagem masculino que atraísse os meninos para as salas de cinema, quebrando a ideia de que aquele seria um “filme de meninas”. Entretanto, apesar das cores, músicas e outros detalhes da animação, não se perde muito em suspense.

Além da animação feita para o cinema, o livro também já virou uma graphic novel, ilustrada por P. Craig Russel, em 2008.

 

P.S.: Estou perdendo um pouco o ritmo de leitura, mas nas férias vou compensar isso escolhendo livros maiores. Por enquanto estou gastando os livros pequenos para conseguir manter quase em dia a proposta do blog.

 

Espíritos de Gelo

Capa belíssima da publicação pela Editora Leya

Espíritos de Gelo é vendido como um livro de terror, mas extrapola os limites do gênero e se torna algo diferente. Suas 176 páginas são capazes de prender e surpreender o leitor. O texto é escrito de uma forma dinâmica e direta, cru e agressivo. É cheio de referências à cultura popular: Supernatural, Sandman, Senhor do Anéis, The Beatles, lendas urbanas…

A história explora os limites do ser humano. Até onde o corpo e a mente podem aguentar dor física e psicológica? O protagonista acordou numa banheira de gelo, sem um rim, e com um bilhete avisando para que ligasse urgentemente para a emergência. Essa é sua única lembrança. Agora está acorrentado em um porão escuro e úmido, sendo interrogado por três figuras nada comuns. E seus três algozes estão determinados à fazer com que ele se lembre de tudo o que eles querem saber.

“Se você não se lembrar do que aconteceu nas últimas horas, nós faremos com que sofra ainda mais, como se estivesse em um dos Nove Círculos do Inferno… “

Diversas vezes fiquei em dúvida sobre o que estava lendo. Os objetivos dos personagens não eram claros o bastante para uma compreensão completa da narrativa. A quantidade de referências sobre temas diversos utilizados pelo protagonista em suas respostas sarcásticas para seus torturadores me faziam questionar a veracidade daquela personalidade. Entretanto a revelação final transforma a história de tal maneira, que esses detalhes se tornam meras insignificâncias diante de tudo que lhe é apresentado.

O ponto central torna-se a discussão sobre como o homem é frágil diante das influências do amor, do dinheiro e do poder. Como se desequilibra pelo excesso ou ausência de qualquer um dos três.

Comecei a ler Espíritos de Gelo despretensiosamente, sabendo apenas que se tratava de um autor nacional que de vez em quando participa de um podcast que eu costumo escutar. Não li nenhuma outra obra do Raphael Dracoon, mas fiquei intrigado. Buscarei outros de seus livros para ler, como a série Dragões do Éter, que nunca me despertou interesse até agora, apesar de ser de um dos meus gêneros favoritos. Guardo grandes expectativas para esse autor nacional que só vim a descobrir agora, mas mostrou possuir uma maneira  incomum de envolver alguém em uma leitura.