A Máquina do Tempo – The Time Machine

“Um alien em seu próprio planeta”

Escrito em 1895 por H(erbert) G(eorge) Wells quando o mesmo tinha 29 anos, especula-se que tenha sido o primeiro livro a tratar sobre viagens o tempo. O livro foi veículo para sua visão de mundo, e de quebra trouxe a exploração de novas temáticas para a literatura.

Nele, o protagonista conhecido apenas como Viajante do Tempo, desenvolve uma máquina capaz de avançar e retroceder no tempo, baseado em seus estudos aprofundados sobre geometria espacial e matemática. Ansioso por testar a máquina recém construída, senta-se nela e começa a avançar no tempo. Surpreso pelo mal-estar causado pela viagem, acaba perdendo um pouco a noção de quanto tempo se passou, e vai parar no ano de 802.701. O mundo de então lhe parece paradisíaco, a natureza cresce exuberante sem a presença de grandes cidades, e uma raça de pequenas criaturas remanescentes dos humanos, os dóceis Elóis, vive sem qualquer tipo de preocupações.

H. G. Wells em 1943

O Viajante do Tempo passa alguns momentos tranquilos em companhia dos Elóis, se alimentando com eles de pequenas e doces frutas, e tentando aprender o idioma do povo, que é extremamente simples. Suas frases são compostas de no máximo 3 palavras, e quase que totalmente por substantivos concretos e adjetivos. Então ele descobre que sua máquina do tempo não está onde foi deixada.

Desesperado, começa a explorar as proximidades em busca de seu veículo temporal, e a única forma de sair daquele mundo belo, porém simplório demais para as ambições de um cientista. Encontra monumentos inexplicáveis, prováveis traços de uma época de grande poder da raça humana, e descobre rastros de sua máquina do tempo que o levam até uma porta de bronze fechada, que ele não tem condições de abrir.

À princípio, o protagonista acredita que a vitória final da humanidade sobre as forças da natureza fez com que o homem não tivesse mais dificuldades à enfrentar, e isso causou a diminuição de sua força física e inteligência. Entretanto, ele não consegui entender como os Elóis tinham tudo o que precisavam sem o menor esforço, indústria ou confecção. E quanto mais do mundo vai conhecendo, mais estranha começa a considerar toda aquela realidade.

A Máquina do Tempo, como imaginada para o cinema em 1960.

Durante uma de suas caminhadas, tem o primeiro contato com um espécime da raça dos Morlocks, predadores subterrâneos que aterrorizam os Elóis, principalmente durante as noites de lua nova. O Viajante do Tempo entra em um poço atrás de um Morlock,  chega numa caverna localizada uns 200 metros no subsolo. Ouve barulhos incessantes de máquinas, e percebe que as criaturas são tanto operárias que trabalham para manter a sociedade dos Elóis, quanto predadores dos mesmos. Começa então a filosofar sobre a evolução do mundo considerando a evolução das classes trabalhadora e dominante. Os Elóis, uma vez a classe dominante, não queriam contato com os operários, e realocaram a indústria no subterrâneo do planeta, mantendo o conforto da superfície para si. Mas milênios de evolução tornaram-nos fracos, e os operários mantiveram alguma inteligência e força física, devido às necessidades e esforços realizados por sua casta.

Misturando ficção científica com certa dose de sociologia, H. G. Wells constrói um cenário perturbador que mostra a extrapolação máxima da visão capitalista de sua época.

Seu personagem supera alguns conflitos, não sem sofrer algumas perdas importantes, recupera sua máquina e resolve avançar mais ainda no tempo. Avança até onde parece ser impossível imaginar, e presencia o crepúsculo final, o momento em que o sol se apaga no sistema solar. Debilitado pelo ar rarefeito e pelas aventuras anteriores, volta ao seu tempo, e relata suas experiências à um grupo de amigos, que encaram tudo como uma grande obra de ficção. O autor inclusive faz um certo uso de metalinguagem, quando um dos ouvintes sugere ao Viajante que ele escreva um livro.

A Máquina do Tempo, reinventada para a versão cinematográfica de 2002

A obra foi adaptada para o cinema duas vezes, uma em 1960, com Rod Taylor no papel do Viajante do Tempo, que recebeu o nome de George. A outra versão é de 2002, dirigida por Gore Verbinske e Simon Wells – este último bisneto de H. G. Wells – com Guy Pierce no papel principal. Esta segunda versão trouxe várias mudanças para a obra, e foi amplamente criticada por conta disso.

Apesar de sua linguagem antiga e rebuscada, é uma leitura rápida e envolvente, e você quer saber o que está realmente acontecendo naquele mundo. Não aprofunda muito nos personagens, pois claramente não é esse o foco da obra, infelizmente.

É atualmente publicado no Brasil pela Editora Alfaguara/Objetiva, em edição de 152 páginas.