Stardust – O Mistério da Estrela

“Song

Go, and catch a falling star,
Get with child a mandrake root,
Tell me, where all past years are,
Or who cleft the Devil’s foot,
Teach me to hear mermaids singing,
Or to keep off envy’s stinging,
And find
What wind
Serves to advance an honest mind.

If thou be’est born to strange sights,
Things invisible to see,
Ride ten thousand days and nights,
Till age snow white hairs on thee,
Thou, when thou return’st, wilt tell me
All strange wonders that befell thee,
And swear
Nowhere
Lives a woman true, and fair.

If thou find’st one, let me know,
Such a pilgrimage were sweet,
Yet do not, I would not go,
Though at next door we might meet,
Though she were true when you met her,
And last, till you write your letter,
Yet she
Will be
False, ere I come, to two, or three.”

—John Donne, 1572-1631

Publicado pela Editora Rocco, com 280 páginas.

Publicado pela Editora Rocco, com 280 páginas.

Escrito em 1998 por Neil Gaiman, Stardust (no Brasil, lançado com o subtítulo O Mistério da Estrela) nos apresenta o pacato vilarejo vitoriano de Muralha, seus habitantes e ao fato de que durante um dia e uma noite a cada nove anos, esse vilarejo se torna a passagem para um mundo extraordinário e feérico. E eis que nesse dia, Dusntan Thorn, um habitante de Muralha, atravessa para o outro lado e se maravilha com coisas, pessoas e criaturas que nunca sonhara ver. E uma noite, nove meses depois, Dunstan e sua esposa acordam, e encontram num cesto deixado em sua porta, uma criança e um bilhete com seu nome escrito “Tristran Thorn”.

Tristran cresce, e apesar de todos notarem algumas diferenças nele, uma de suas orelhas parecia a de um gato, foi criado como qualquer outra criança do lugarejo. Aos dezessete anos, Tristran e Victoria Forester, garota pela qual ele e metade dos rapazes do vilarejo eram apaixonados, presenciam a queda de uma estrela cadente. E a queda dessa estrela seria o gatilho para diversos acontecimentos: uma promessa impensada, uma busca pela juventude e uma competição sangrenta por um trono. E tudo isso só piora quando Tristran descobre que a estrela é uma garota, chamada Yvaine, e não um objeto inanimado que possa ser dado de presente.

Capa da versão ilustrada.

Capa da versão ilustrada.

Com a identidade literária de Gaiman presente em cada parágrafo, Stardust é uma viagem nas histórias de fantasia. É um conto de fadas para adultos. São claramente perceptíveis as regras não declaradas presentes nos contos de fadas. A importância de uma promessa, o valor de um presente, o débito de vida, a necessidade de uma vingança. Os arquétipos dos personagens aplicados de maneira clara e ao mesmo tempo sutil. A tênue linha que separa a inocência e a crueldade nos contos infantis está presente o tempo todo na narrativa.

Stardust conta uma história capaz de fazer com que você pense já conhecer algo parecido, ainda que nunca tenha lido nada parecido. A quantidade de elementos conhecidos, em situações familiares, faz com que isso aconteça. Cantigas infantis rimadas, que mostram ter grande poder no mundo feérico quando usadas no momento certo. As três grandes e velhas bruxas, que estão atrás da estrela, podem ser encontradas em diversas mitologias, como as Moiras da mitologia grega e as Norns da mitologia nórdica. Tal qual as histórias mitológicas, os personagens não são bonzinhos ou malvados. Todos são capazes de cometer atos bons e ruins. Não existe a necessidade de um vilão para o andamento da trama, embora alguns personagens adotem esse papel em momentos diferentes.

Yvaine, a Estrela

Yvaine, a Estrela

Um livro ótimo, que em 2007 deu origem à um filme legal, mas que infelizmente cai na armadilha de alguns produtores e foge da proposta inicial do autor, porém sem perder completamente o espírito da obra. Cabe a você analisar as grandes diferenças e pensar em que estilo te agrada mais.

Também ganhou uma versão ricamente ilustrada por Charles Vess, vale a pena conferir.

Veja o trailer do filme (não achei uma versão legendada):

Star Wars: A Última Ordem – The Last Command

Último volume da série, publicado no Brasil em 1995.

Último volume da série, publicado no Brasil em 1995.

Último texto sobre Star Wars, pelo menos por enquanto!

Em A Última Ordem, terceiro e último livro da trilogia iniciada em Herdeiros do Império, o quase onisciente Almirante Thrawn faz os preparativos finais para o derradeiro ataque à Nova República. De posse de uma tecnologia secreta de camuflagem, da maior parte da Frota Katana, de uma estação de clonagem inteira e colaborando com um mestre Jedi maligno, o almirante considera-se plenamente capaz de derrubar os rebeldes e reinstaurar o Império.

Um a um, diversos sistemas caem ou se rendem ao avanço do Império. Atacando diversos pontos estratégicos, como planetas produtores de alimento, o Império pouco a pouco abaixam a moral das tropas da Nova República.

Os ysalamiri, pequenos répteis que repelem a Força.

Os ysalamiri, pequenos répteis que repelem a Força.

Pressionado por C’Baoth, o almirante Thrawn organiza um ataque surpresa à Coruscant, a capital do novo governo. Com o General Bel Iblis, o Esquadrão Rogue e grande parte da força combativa da Nova República combatendo nos sistemas de fronteira, o planeta é alvo fácil para a nova arma de cerco planetário do almirante (que eu achei genial), e fica temporariamente fora do jogo de poder. Durante esses eventos, Leia dá à luz ao gêmeos Jacen e Jaina, posteriormente usados como protagonistas de mais ou  menos dezenove livros do Universo Expandido.

Devido aos repetidos fracassos do Império em capturar Leia e seus gêmeos, a tensão entre o Jedi maligno C’Baoth e o almirante crescem até um ponto em que não é seguro manter o Jedi por perto, e o mesmo é deixado no planeta onde foi encontrado pela primeira vez, Wayland, localização de um depósito secreto de tecnologia do Imperador. Enchendo a fortificação com os ysalamiri, Thrawn acredita ter neutralizado o Jedi maligno por tempo suficiente até que ele não seja mais necessário.

Presos em Coruscant, e sem opções no momento, Leia e Ghent, um jovem hacker da equipe de Talon Karrde, focam todos seus esforços na tarefa de descobrir quem ou o que está vazando informações confidenciais para o Império (e colaborando para a até então inexplicável onisciência de Thrawn). Por fim, localizam e eliminam a Fonte Delta, como era chamada pelo último.

Karrde e seu grupo de aliados contrabandistas.

Karrde e seu grupo de aliados contrabandistas.

Karrde por sua vez, parte para diversos pontos da Galáxia tentando convocar seus conhecidos contrabandistas e fazer com que aceitem coletar informações e vender para a Nova República, apesar de toda a desconfiança colocada sobre eles. Karrde começa a entender e sentir-se na pele de Han Solo durante os eventos que levaram-no a colaborar com a destruição da primeira Estrela da Morte. Escapando de uma série de armadilhas e traições, Karrde consegue organizar um grupo unido o suficiente, e tem papel chave na libertação de Coruscant.

O grupo, se infiltrando no Monte Tantiss.

O grupo, se infiltrando no Monte Tantiss.

Mara Jade, Luke, Han Solo, Chewie, Lando e os dróides partem à bordo da Millennium Falcon rumo ao planeta secreto de Wayland, graças aos conhecimentos resultantes do passado sombrio de Mara Jade como agente secreta do Imperador. Os sete tem a missão de, sozinhos, infiltrarem-se na fortaleza do Monte Tantiss e sabotar a estação de clonagem do Império. Durante os dias em que se aproximam do Monte Tantiss, Luke começa a aprimorar o treinamento Jedi de Mara Jade, ensinando-a a controlar a força mais sutilmente, e a manejar o sabre-de-luz. Jade enquanto isso luta interiormente para entender seus sentimentos conflitantes em relação a Skywalker, e tem pesadelos constantes sobre o momento da morte do Imperador.

Pesadelos recorrentes de Mara Jade, onde ela presencia, impotente, a morte do Imperador Palpatine.

Pesadelos recorrentes de Mara Jade, onde ela presencia, impotente, a morte do Imperador Palpatine.

Como não poderia deixar de acontecer, temos um belo combate de sabres-de-luz, na edição que eu li traduzidos como sabre-laser. Mara e Luke enfrentam um desafio à altura, que os deixam ocupados e incapazes de ajudar seus aliados. Lando e Chewie combatem os soldados imperiais, e recebem reforços inesperados de Leia e Karrde, mais um pequeno mas eficiente bando de guarda-costas noghri.

C'baoth_lightningO confronto final com C’Baoth é terrível e inevitável. Mara finalmente supera seu passado e liberta sua mente da influência do Imperador.

Presenciamos também o confronto final entre as frotas da Nova República e do Império, onde ambos reuniram quase a totalidade de suas forças. O previsível mas bem construído fim do Grande Almirante Thrawn desarticula completamente a organização da frota imperial, que é forçada a bater em retirada, e uma vitória bastante significativa da Nova República é conquistada.

Luke, que em certo ponto recuperara o sabre-de-luz azul perdido no duelo contra Darth Vader no Episódio V – O Império Contra-Ataca, confia-o à Mara Jade, e passa a sentir-se preparado para continuar ensinando sua irmã, seus sobrinhos e com o tempo reconstruir a Ordem Jedi.

Ufa… Terminei. Quase 1200 páginas resumidas em três pequenos textos. Gostaria de ter acesso a mais livros do Universo Expandido, e continuar acompanhando a história desses personagens que o cinema dos anos 70/80 nos ensinou a gostar. Mas vou dar um tempo por enquanto, e procurar algo diferente para ler semana que vem.

Pilotos do Esquadrão Rogue.

Pilotos do Esquadrão Rogue.

Curiosidades:

  • O planeta sede do governo, Coruscant, apareceu pela primeira vez nessa série de livros, e foi adotado como material oficial por George Lucas em sua nova trilogia.
  • A Trilogia Thrawn ganhou versão em quadrinhos pela Dark Horse Comics, adaptada pelo roteirista Mike Baron.
  • Zahn escreveu mais livros, continuando e encerrando a guerra contra o Império e dando continuidade ao romance entre Luke Skywalker e Mara Jade, chamados Specter of the Past e Vision of the Future, conhecidos como a série Hand of Thrawn. Já o casamento dos dois personagens acontece na história em quadrinhos Star Wars: Union.
  • Zahn assinou a minissérie em quadrinhos Mara Jade – By the Emperor’s Hand, que revela detalhes do passado sombrio da personagem.

Obrigado pela paciência e por aguentarem três publicações seguidas sobre praticamente o mesmo tema. Estava empolgado…

***

 

Ajude-me a divulgar meu blog! Clique no botão abaixo para que o Blogarama aceite meu cadastro rapidamente!

Blogarama - The Blog Directory

Star Wars: O Despertar da Força Negra – Dark Force Rising

Segundo volume da trilogia, publicado em 1993.

Segundo volume da trilogia, publicado em 1993.

Segundo livro da Trilogia Thrawn, O Despertar da Força Negra começa imediatamente após o primeiro. O Grande Almirante Thrawn busca vingar-se de Talon Karrde por sua colaboração na fuga de Luke Skywalker da armadilha preparada pelo Império, destruindo sua base de operações principal, no mesmo planeta onde Luke e Mara Jade tiveram de sobreviver alguns dias na floresta habitada pelas criaturas que suprimem a Força.

Karrde e seu grupo entretanto, já prevendo a óbvia retaliação, escaparam momentos antes, e esconderam sua nave, a Wild Karrde em alguns asteroides próximos ao planeta. Nesse momento, Jade pressente o perigo através da Força, e faz com que o grupo fuja do esconderijo improvisado no último instante, escapando de mais uma das armadilhas convenientemente planejadas de Thrawn.

Chewie e Leia escapando de um ataque em Kashyyyk.

Chewie e Leia escapando de um ataque em Kashyyyk.

Leia, após retornar de sua breve estadia em Kashyyyk, onde foi novamente emboscada por um grupo dos mesmos alienígenas felinos que descobriu pertencerem ao povo noghri, leal ao Império, resolve fazer uma visita diplomática ao planeta dos mesmos e tentar trazê-los para o lado da Nova República. Novamente, o quase onipresente vilão da trilogia resolve fazer uma inspeção ao planeta justamente quando Leia se encontra lá. Eventos parecidos acontecem durante toda a história, o que me deixou novamente desapontado com a narrativa. Aparentemente, o autor recebeu algumas críticas quanto a esses defeitos entre a publicação do primeiro e do segundo livros. A perseguição ainda é óbvia e conveniente, mas dessa vez os heróis conseguem antever alguns de seus atos, e estar um ou dois passos a frente do almirante.

Han Solo e Lando viajam pela galáxia na tentativa de encontrar provas da inocência de um dos líderes da Nova República, que sofria constantes acusações de traição, e corria o risco de sofrer um golpe de estado. Nessas viagens, acabam encontrando um personagem que se tornaria famoso em publicações subsequentes do Universo Expandido, inclusive aparecendo em jogos de videogame. Após entrarem em contato com o Senador Bel Iblis, descobrem que a lendária Frota Katana, também chamada de Força Negra (composta por quase duzentos cruzadores gigantescos) realmente existe, e pode ser recuperada para uso da república. Mais uma vez, a onisciência do almirante Thrawn o coloca atrás do mesmo objetivo de Solo e Lando, no que acaba virando uma corrida pela localização da frota perdida.

O Senador corellian Garm Bel Iblis, Hal Solo e Lando, observando projeções da Frota Katana.

O Senador corellian Garm Bel Iblis, Hal Solo e Lando, observando projeções da Frota Katana.

Nesse meio tempo, Luke entra em contato com o Jedi do Mal C’Baoth, sem suspeitar de suas verdadeiras intenções, e encontra-se com ele no planeta Jomark. Depois de algumas demonstrações de grande ambição por poder, egoísmo e loucura, além de algumas utilizações de poderes do Lado Negro da Força, Luke percebe que C’Baoth é mal intencionado, e começa a se preocupar em trazê-lo de volta como fizera com seu pai. As coisas não vão tão bem, e Luke acaba sendo resgatado por Mara Jade, que passa por um grande conflito entre matar ou não Skywalker.

O "Jedi do Mal", Joruus C'Baoth.

O “Jedi do Mal”, Joruus C’Baoth.

Mara Jade, que descobrimos ser uma antiga agente especial do Imperador, e que perdeu a identidade e a razão de viver quando não tinha mais a quem servir. Jade tem visões constantes do Imperador sendo assassinado por Luke e Darth Vader, e lembra-se claramente de que deveria matar o Cavaleiro Jedi.

O livro termina no mesmo tom de O Império Contra Ataca, com a Nova República sofrendo uma derrota ao perder a Frota Katana para o Grande Almirante Thrawn. Porém, nem tudo parece perdido, já que o Império carece números em suas fileiras para operar todas as naves recém-adquiridas. Luke não tem tanta certeza de que existe muita esperança, devido a um encontro com uma tropa de soldados clones, que não eram mais vistos há anos.

Com a curva dramática lá em cima, a expectativa pelo terceiro livro e a conclusão da história se torna inevitável. Novamente, apesar do desesperador Deus Ex Machina presente no livro, a leitura empolgou, tanto é que comecei a ler o terceiro logo em seguida, e terminei dois dias depois.

***

 

Ajude-me a divulgar meu blog! Clique no botão abaixo para que o Blogarama aceite meu cadastro rapidamente!

Blogarama - The Blog Directory

Star Wars: Herdeiros do Império – Heir to the Empire

Capa nacional da edição publicada em 1993. Star Wars ainda era traduzido como Guerra nas Estrelas.

Capa nacional da edição publicada em 1993. Star Wars ainda era traduzido como Guerra nas Estrelas.

Como admirador dos filmes Star Wars que sou, não pude deixar de aproveitar quando encontrei recentemente na internet a série de livros considerada a mais importante do Universo Expandido (que consiste em livros, quadrinhos e jogos, devidamente licenciados pela Lucasfilm) da franquia. Conhecida pelos fãs como Trilogia Thrawn, é composta por três romances: Herdeiros do Império (Heir to the Empire), O Despertar da Força Negra (Dark Force Rising) e A Última Ordem (The Last Command).

Já vou avisando que toda a série é muito melhor aproveitada se você já assistiu todos os filmes da Trilogia Clássica.

A trilogia começa cinco anos após a destruição da segunda Estrela da Morte, que acontece no Episódio VI – Retorno de Jedi. Luke, Leia e Han Solo voltam aos papéis principais, participando do estabelecimento da Nova República, modelo de governo defendido pela Aliança Rebelde desde sua criação, quase trinta anos antes.

Somos apresentados à um período complicado para a Nova República, que disputa constantemente com os oficiais remanescentes do Império a lealdade de cada planeta, em cada sistema. Entretanto, o ressurgimento de um Grande Almirante Imperial, nomeado pelo próprio Imperador, começa a desequilibrar mais uma vez a balança, e ameaçar o crescimento do novo governo. Thrawn é o único não-humano dos doze Grande Almirantes originais, escolhidos a dedo pelo xenófobo Imperador Palpatine como seus oficiais mais altos. Um grande e frio estrategista militar, capaz de identificar as fraquezas e prever atitudes e reações de seus inimigos através da análise das obras de arte de sua raça, e uma das maiores personificações do termo Deus Ex Machina que já vi em minha vida. Explico mais tarde.

Thrawn, o alien azul de olhos vermelhos que comanda os remanescentes do Império.

Thrawn, o alien azul de olhos vermelhos que comanda os remanescentes do Império.

Vários personagens originais, além do próprio Thrawn, são introduzidos nesse livro também, sendo os mais importantes o contrabandista Talon Karrde, cuja organização criminosa cresceu espantosamente após a morte de Jabba, e sua principal assistente Mara Jade, segunda em comando de sua organização, e dona de um passado misterioso.

Han Solo tenta contatar seus antigos amigos contrabandistas para que trabalhem como transportadores de carga para a Nova República, sem muito sucesso. Leia, grávida de gêmeos, tenta dividir seu tempo entre o treinamento Jedi e as missões diplomáticas confiadas a ela. Já Luke alcançou maior amadurecimento de suas habilidades como Jedi, mas ainda sente-se um pouco perdido, e preocupa-se se será capaz de orientar corretamente o treinamento dos sobrinhos.

Acompanhamos Thrawn em sua busca por tecnologias escondidas pelo Imperador em um planeta desconhecido, e seu encontro com um Lorde de Sith (no livro lançado em 1992, ainda chamado de Evil Jedi, ou Jedi do Mal) completamente insano chamado Joruus C’Baoth. Thrawn, de posse de criaturas capazes de repelir a Força, consegue forjar uma frágil aliança com o velho maluco, em troca de oferecer Luke, Leia e os gêmeos para serem seus discípulos. C’Baoth assume a função de coordenar os ataques espaciais através do uso da Força, controlando as mentes dos pilotos e sincronizando suas ações com perfeição. Tudo isso, entretanto, a Nova República desconhece, e começa a sofrer derrotas significativas para o Império.

Escapando por um triz de uma armadilha de Thrawn, Luke acaba caindo no planeta onde se localiza o centro de operações de Karrde. Após alguns acontecimentos, ele e Mara Jade, que nutre um misterioso ódio por Skywalker, acabam tendo de se aliar para sobreviver nas florestas do planeta, de onde Thrawn retirou as criaturas que bloqueiam o uso da Força, os ysalamiri.

Talon Karrde, o contrabandista.

Talon Karrde, o contrabandista.

Convenientemente, Han Solo e Lando chegam ao planeta mais ou menos nesse momento, conseguem um acordo com Karrde e resgatam Luke e Jade das tropas imperiais que o perseguiam.

Leia, por outro lado, é perseguida de planeta em planeta por uma raça de felinos humanoides que trabalham para o Império. Como aparentemente eles estão sempre um passo à sua frente, ela começa a suspeitar de que algo ou alguém esteja vazando informações confidenciais do conselho de guerra da Nova República para o Império.

O livro termina numa pequena mas importante batalha espacial, com uma vitória sofrida da Nova República e preparando terreno da continuação.

A experiência de ler o livro foi motivo de bastante conflito interno de opiniões para mim. Por um lado, entrar em contato com uma história inédita de uma série que eu gosto, foi bastante interessante. Reencontrar personagens familiares como os integrantes do Esquadrão Rogue, conhecer novos personagens que se tornam importantes, revisitar cenários já conhecidos, tudo isso dá força à obra. Mesmo que apenas para fãs dos filmes.

A misteriosa Mara Jade.

A misteriosa Mara Jade.

Entretanto, o livro foi pelo menos para mim, bastante previsível. O gênio militar do Grande Almirante Thrawn pode ser explicado como o uso abusivo de um recurso chamado Deus Ex Machina, que é quando o autor manipula a história de tal forma que os acontecimentos favorecem um personagem sem muita explicação. Tudo parece acontecer convenientemente a favor do personagem, e em dados momentos parece que o mesmo é capaz de estar em vários lugares ao mesmo tempo. Outro ponto negativo é a perda do humor característico de alguns personagens, com Han Solo, que se tornou “respeitável” e entediante, e a má utilização dos droides, notadamente utilizados como alívio cômico nos filmes.

Apesar de tudo, foi uma leitura agradável no final das contas, já que acrescentou mais do que gerou desgosto por alguns problemas narrativos. Ainda assim, reconheço que o livro não tem apelo para os leitores não familiarizados com os filmes da série de cinema.

Obviamente, não pude deixar de ler as continuações logo em seguida, e acabei lendo os 3 livros em quatro ou cinco dias. Ainda essa semana publicarei um texto sobre cada uma delas aqui.

Escrito por Timothy Zahn em 1992, publicado no Brasil em 1993 pela Editora Best Seller em edição de 373 páginas.

***

 

Ajude-me a divulgar meu blog! Clique no botão abaixo para que o Blogarama aceite meu cadastro rapidamente!

Blogarama - The Blog Directory

O Restaurante no Fim do Universo – The Restaurant at the End of the Universe

Segundo volume da série Mochileiro das Galáxias

Segundo volume da série Mochileiro das Galáxias

“Existe uma teoria que diz que, se um dia alguém descobrir exatamente para que serve o Universo e por que ele está aqui, ele desaparecerá instantaneamente e será substituído por algo ainda mais estranho e inexplicável.

***

Existe uma segunda teoria que diz que isso já aconteceu.”

Continuação direta de O Guia do Mochileiro das Galáxias, O Restaurante no Fim do Universo é o segundo volume da trilogia de cinco livros escrita por Douglas Adams. Neste livro, seguimos acompanhando as aventuras de Arthur, Trillian, Ford, Zaphod e Marvin, logo após o desastroso acidente envolvendo alguns ratos brancos e uma frota de demolição Vogon.

Numa tentativa desesperada de conseguir um pouco de chá para beber, Arthur acidentalmente acaba desviando toda energia e poder de processamento dos computadores da nave Coração de Ouro para o sintetizador de alimentos. Nesse momento de completa vulnerabilidade, são atacados por perseguidores Vogons, e seriam destruídos em apenas 4 minutos. Os quatro minutos mais longos da história do Universo, graças à sessão espírita iniciada por Zaphod, o Presidente da Galáxia, dentro da mesma nave, e a intervenção temporal do espírito de seu bizavô.

Sim, o segundo livro é ainda mais confuso e bizarro que o primeiro. Pelo menos para mim, a história ficou em segundo plano. Sempre que virava uma página, ou avançava um capítulo, esperava por um trecho do Guia, aprofundando um pouco mais o universo criado pelo autor, e revelando suas filosofias muitas vezes ácidas à respeito do mundo real, disfarçado por todo o cenário maluco criado pelo mesmo.

Em algumas páginas descobrimos o que o autor pensa sobre religião, política, a insignificância do homem com relação a infinitude do universo, mas uma das melhores definições é sobre a banda de rock fictícia Disaster Area, que deixa muito claro o desgosto do mesmo sobre rock:

“O Guia do Mochileiro das Galáxias diz que a Disaster Area, uma banda de rock plutoniano das Zonas Mentais de Gagrakacka, é geralmente tida não, apenas como a mais barulhenta de toda a Galáxia, mas também como o maior de todos os barulhos. Os frequentadores habituais dos shows dizem que o melhor lugar para se ouvir um bom som é dentro de grandes bunkers de concreto a uns 60 quilômetros do palco, enquanto os músicos em si tocam os instrumentos por controle remoto a partir de uma espaçonave altamente isolada que fica em órbita em torno do planeta – ou, mais frequentemente, em torno de um planeta completamente diferente. Suas músicas são no geral bastante simples e a maioria segue o tema familiar do ser-masculino que encontra um ser-feminino sob uma lua prateada, que depois explode sem nenhum motivo aparente.”

E as descrições dos efeitos de um show num planeta desértico são descritos de forma parecida. Conta que os poucos sobreviventes da apresentação testemunharam toda a areia do deserto se erguer no céu como uma panqueca de um quilômetro de espessura, que virou e caiu de volta no solo. Um ano depois, aquela região do planeta estava coberta por uma exuberante floresta.

Outro ponto legal da narrativa é o momento em que os personagens se encontram dentro do Restaurante Milliways, localizado no final da linha do tempo. Lá os personagens podem almoçar tranquilamente, sabendo que suas contas foram pagas milhares de anos atrás, ao depositarem um centavo na conta bancária do restaurante e deixarem a correção monetária se encarregar do resto. Enquanto fazem seus pedidos, os personagens conhecem um boi, manipulado geneticamente durante sua concepção para que fosse a favor de ser morto para virar alimento, contrariando todas as expectativas de centenas de milhares de habitantes da Galáxia que optam pelo vegetarianismo. O boi chega até mesmo a indicar quais partes de seu corpo estão mais apetitosas.

Essa cena está presente inclusive, na bizarra adaptação da história feita para a tv pela BBC, o boi sendo misteriosamente substituído por um porco:

O livro ainda conta com várias outras passagens memoráveis, como a passagem de Zaphod pelo planeta mais perigoso da Galáxia, seu posterior encontro com o Homem que Comanda Tudo, algumas viagens desastrosas no tempo que acabam obrigando Marvin a aguentar a eternidade umas duas vezes, e o encontro de Arthur e Ford com nossos ancestrais primitivos.

Muitos acontecimentos nonsense num livro de apenas 173 páginas. Vale a leitura.

***

 

Ajude-me a divulgar meu blog! Clique no botão abaixo para que o Blogarama aceite meu cadastro rapidamente!

Blogarama - The Blog Directory

A História Sem Fim – Die Unendliche Geschichte

“Todas as verdadeiras histórias são Histórias Sem Fim! […] Há muitas portas para Fantasia, meu rapaz. Há muitos outros livros mágicos. Muitas pessoas nunca percebem isso. Tudo depende da pessoa em cujas mãos o livro vai parar”

Escrito por Michael Ende e publicado em 1979, A História Sem Fim é ironicamente o livro que me tomou mais tempo para ler desde que eu comecei a escrever este blog. Riquíssimo em detalhes e descrições, o texto pinta diversos cenários e personagens na mente do leitor.

Capa original da edição alemã.

A História Sem Fim é um livro dentro do livro, que é lido e vivido pelo protagonista Bastian Balthazar Bux, um garotinho gordo, pálido e covarde, constantemente perseguido e humilhado por colegas de escola. Tudo começa quando, ao fugir desses colegas, Bastian entra numa livraria alfarrabista (vulgo Sebo) e encontra um livro que prende completamente seu olhar. A capa era de seda cor-de-cobre e brilhava quando o livro era mudado de posição. Havia ainda um símbolo na capa: duas serpentes, uma clara e outra escura, cada uma mordendo a cauda da outra. Tomado por um impulso anormal, Bastian rouba o livro e se refugia no sótão da escola, onde ficaria até o final de sua leitura.

Capa do filme, de 1984, dirigido por Wolgang Petersen.

Toda a primeira metade do livro é extremamente rica em detalhes visuais. Conhecemos Atreiú e sua missão, de encontrar a cura para a Imperatriz Criança, poder máximo do reino de Fantasia, que está definhando de uma misteriosa doença. Ao mesmo tempo, descobrimos que um grande mal paira sobre esse reino. O Nada, que a cada instante consome mais e mais domínios de fantasia. Atreiú deve vagar por Fantasia em busca da cura, sendo guiado apenas pelo AURIN, a “Jóia”, o “Brilho”, a insígnia da imperatriz, que faz com que seja respeitado por toda as criaturas que habitam Fantasia, boas ou más, belas ou feias, sábias ou loucas.

Em dado momento, Atreiú encontra um dragão da sorte, uma gigantesca serpente com escamas de madrepérola e cabeça de leão, capaz de cuspir chamas azuis, chamado Fuchur (e que no filme seria chamado de Falkor). Juntos alcançam o Oráculo do Sul, onde Atreiú descobre que nenhum ser de Fantasia poderia salvar sua imperatriz. Apenas um filho de Adão, um humano, um habitante do mundo de fora, poderia curá-la, dando um novo nome para ela. Nesse momento Bastian tem certeza que o livro que lê está se referindo a ele. Atreiú separa-se de Fuchur por acidente, e encontra-se com o lobisomem Gmork, a personificação bestial do Nada, que nesse momento já consumiu Fantasia quase por completo. O Nada também é um ser de fora, e do diálogo dos dois surgem conceitos que dificilmente uma criança compreenderia, o que torna o livro mais que uma simples obra infanto-juvenil. O pensamento proposto por esse diálogo é muito mais profundo e remete à facilidade com que alguém é capaz de acreditar em mentiras. Pesquisando um pouco sobre o autor (como costumo fazer sempre antes de vir escrever aqui), descobri que o mesmo é um dos mais famosos escritores do pós-guerra alemão, e seu discurso está intimamente ligado à sua realidade:

“- Calma, pequeno louco, rosnou o lobisomem. Quando chegar a sua vez de saltar para o Nada, você se transformará também num servidor do poder, desfigurado e sem vontade própria. Quem sabe para o que vai servir. É possível que, com sua ajuda, se possam convencer os homens a comprar o que não necessitam, a odiar o que não conhecem, a acreditar no que os domina ou a duvidar do que os podia salvar. Por seu intermédio, pequenos seres de fantasia, fazem-se grandes negócios no mundo dos homens, desencadeiam-se guerras, fundam-se impérios…”.

O Lobisomem Gmork, o agente do Nada.

O nome do protagonista é parte importante para total compreensão da obra, afinal ele é o bastião, o grande salvador protetor de Fantasia. Quando Bastian finalmente intervém e dá um novo nome à Imperatriz Criança, começa a segunda parte do livro. Aliás, para minha surpresa, o livro conta muito mais que o famoso filme de 1984, que termina justamente nesse momento.

O AURIN, muito mais bonito no filme do que o descrito no livro. Falei!

Desse ponto para frente, todo o tom da narrativa muda. Tudo torna-se muito filosófico e intimista. Bastian é tragado para dentro a história, recebe o AURIN, que realizará cada desejo seu dentro de Fantasia. Logo de cara, o garoto começa a usar seus desejos para mudar nele tudo o que lhe incomoda: tornou-se belo, forte, ágil e corajoso. Entretanto, ao contrário dele, podemos perceber que todos os desejos tem um preço, e aos poucos ele vai perdendo suas memórias, se esquecendo de quem é e de onde veio.

Não vou me estender muito falando sobre essa segunda parte do livro, já que pode ser inédita para a maioria dos leitores daqui do blog, uma vez que não está presente no filme e em nenhuma de suas continuações. Posso adiantar apenas que, conforme Bastian enche Fantasia de novas histórias, torna-se cada vez mais vazio, a ponto de esquecer seu nome e tornar-se um perigo para seus habitantes. Atreiú e Fuchur ainda desempenhariam papéis importantes nessa segunda etapa da história.

Capa do livro, como ele aparece no filme.

Impresso pela Editora Martins Fontes em duas cores, verde e vinho, o livro tem 392 páginas, e é composto por 26 capítulos, cada um iniciado por uma letra do alfabeto, ricamente ilustrada e ornamentada. É um livro que se transforma durante a leitura. Começa leve, e a cada capítulo deixa o leitor mais angustiado e curioso. Sua complexidade o torna indicado para ser lido por adultos, que terão um aproveitamento bastante diferente de uma criança.

P.S.: Sim, eu sei que estou atrasado com os post do blog! Mas tentarei correr com um livro no fim de semana e recuperar um pouco do atraso. E pegarei livros maiores quando começarem as férias da faculdade.

A Máquina do Tempo – The Time Machine

“Um alien em seu próprio planeta”

Escrito em 1895 por H(erbert) G(eorge) Wells quando o mesmo tinha 29 anos, especula-se que tenha sido o primeiro livro a tratar sobre viagens o tempo. O livro foi veículo para sua visão de mundo, e de quebra trouxe a exploração de novas temáticas para a literatura.

Nele, o protagonista conhecido apenas como Viajante do Tempo, desenvolve uma máquina capaz de avançar e retroceder no tempo, baseado em seus estudos aprofundados sobre geometria espacial e matemática. Ansioso por testar a máquina recém construída, senta-se nela e começa a avançar no tempo. Surpreso pelo mal-estar causado pela viagem, acaba perdendo um pouco a noção de quanto tempo se passou, e vai parar no ano de 802.701. O mundo de então lhe parece paradisíaco, a natureza cresce exuberante sem a presença de grandes cidades, e uma raça de pequenas criaturas remanescentes dos humanos, os dóceis Elóis, vive sem qualquer tipo de preocupações.

H. G. Wells em 1943

O Viajante do Tempo passa alguns momentos tranquilos em companhia dos Elóis, se alimentando com eles de pequenas e doces frutas, e tentando aprender o idioma do povo, que é extremamente simples. Suas frases são compostas de no máximo 3 palavras, e quase que totalmente por substantivos concretos e adjetivos. Então ele descobre que sua máquina do tempo não está onde foi deixada.

Desesperado, começa a explorar as proximidades em busca de seu veículo temporal, e a única forma de sair daquele mundo belo, porém simplório demais para as ambições de um cientista. Encontra monumentos inexplicáveis, prováveis traços de uma época de grande poder da raça humana, e descobre rastros de sua máquina do tempo que o levam até uma porta de bronze fechada, que ele não tem condições de abrir.

À princípio, o protagonista acredita que a vitória final da humanidade sobre as forças da natureza fez com que o homem não tivesse mais dificuldades à enfrentar, e isso causou a diminuição de sua força física e inteligência. Entretanto, ele não consegui entender como os Elóis tinham tudo o que precisavam sem o menor esforço, indústria ou confecção. E quanto mais do mundo vai conhecendo, mais estranha começa a considerar toda aquela realidade.

A Máquina do Tempo, como imaginada para o cinema em 1960.

Durante uma de suas caminhadas, tem o primeiro contato com um espécime da raça dos Morlocks, predadores subterrâneos que aterrorizam os Elóis, principalmente durante as noites de lua nova. O Viajante do Tempo entra em um poço atrás de um Morlock,  chega numa caverna localizada uns 200 metros no subsolo. Ouve barulhos incessantes de máquinas, e percebe que as criaturas são tanto operárias que trabalham para manter a sociedade dos Elóis, quanto predadores dos mesmos. Começa então a filosofar sobre a evolução do mundo considerando a evolução das classes trabalhadora e dominante. Os Elóis, uma vez a classe dominante, não queriam contato com os operários, e realocaram a indústria no subterrâneo do planeta, mantendo o conforto da superfície para si. Mas milênios de evolução tornaram-nos fracos, e os operários mantiveram alguma inteligência e força física, devido às necessidades e esforços realizados por sua casta.

Misturando ficção científica com certa dose de sociologia, H. G. Wells constrói um cenário perturbador que mostra a extrapolação máxima da visão capitalista de sua época.

Seu personagem supera alguns conflitos, não sem sofrer algumas perdas importantes, recupera sua máquina e resolve avançar mais ainda no tempo. Avança até onde parece ser impossível imaginar, e presencia o crepúsculo final, o momento em que o sol se apaga no sistema solar. Debilitado pelo ar rarefeito e pelas aventuras anteriores, volta ao seu tempo, e relata suas experiências à um grupo de amigos, que encaram tudo como uma grande obra de ficção. O autor inclusive faz um certo uso de metalinguagem, quando um dos ouvintes sugere ao Viajante que ele escreva um livro.

A Máquina do Tempo, reinventada para a versão cinematográfica de 2002

A obra foi adaptada para o cinema duas vezes, uma em 1960, com Rod Taylor no papel do Viajante do Tempo, que recebeu o nome de George. A outra versão é de 2002, dirigida por Gore Verbinske e Simon Wells – este último bisneto de H. G. Wells – com Guy Pierce no papel principal. Esta segunda versão trouxe várias mudanças para a obra, e foi amplamente criticada por conta disso.

Apesar de sua linguagem antiga e rebuscada, é uma leitura rápida e envolvente, e você quer saber o que está realmente acontecendo naquele mundo. Não aprofunda muito nos personagens, pois claramente não é esse o foco da obra, infelizmente.

É atualmente publicado no Brasil pela Editora Alfaguara/Objetiva, em edição de 152 páginas.

O Guia do Mochileiro das Galáxias – The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy

“Muito além, nos confins inexplorados da região mais brega da Borda Ocidental desta Galáxia, há um pequeno sol amarelo e esquecido.

Girando em torno deste sol, a uma distância de cerca de 148 milhões de quilômetros, há um planetinha verde-azulado absolutamente insignificante, cujas formas de vida, descendentes de primatas, são tão extraordinariamente primitivas que ainda acham que relógios digitais são uma grande ideia.

Este planeta tem – ou melhor, tinha – o seguinte problema: a maioria de seus habitantes estava quase sempre infeliz. Foram sugeridas muitas soluções para esse problema, mas a maior parte delas dizia respeito basicamente à movimentação de pequenos pedaços de papel colorido com números impressos, o que é curioso, já que no geral não eram os tais pedaços de papel colorido que se sentiam infelizes.

E assim o problema continuava sem solução. Muitas pessoas eram más, e a maioria delas era muito infeliz, mesmo as que tinham relógios digitais.

Um número cada vez maior de pessoas acreditava que havia sido um erro terrível da espécie descer das árvores. Algumas diziam que até mesmo subir nas árvores tinha sido uma péssima ideia, e que ninguém jamais deveria ter saído do mar.

E então, uma quinta-feira, quase dois mil anos depois que um homem foi pregado num pedaço de madeira por ter dito que seria ótimo se as pessoas fossem legais umas com as outras para variar, uma garota, sozinha numa pequena lanchonete em Rickmansworth, de repente compreendeu o que tinha dado errado todo esse tempo e finalmente descobriu como o mundo poderia se tornar um lugar bom e feliz. Desta vez estava tudo certo, ia funcionar, e ninguém teria que ser pregado em coisa nenhuma.

Infelizmente, porém, antes que ela pudesse telefonar para alguém e contar sua descoberta, aconteceu uma catástrofe terrível e idiota, e a ideia perdeu-se para todo o sempre[…]”

Douglas Adams – o gênio por trás dessa maluquice toda!

Assim começa um dos livros mais irônicos e dinâmicos que já li na vida. Escrita por Douglas Adams em 1977, originalmente para ser uma rádio-novela da BBC e posteriormente compilado na conhecida “trilogia de cinco livros”, a série é uma grande história de humor nonsense recheada de filosofia nas entrelinhas. Impossível não se identificar nem um pouco com a obra.

A história fala basicamente sobre a raça humana, apesar de começar alguns minutos antes da destruição do planeta Terra, que foi demolido para a construção de uma via expressa hiperespacial, parte de um plano para o desenvolvimento de regiões periféricas da galáxia. Os primeiros capítulos são suficientes para que o leitor perceba o tom de toda a série: a extrapolação absurda de problemas mundanos. Colocando as coisas em tal perspectiva, é quase ridículo analisar os grandes problemas por quais passamos diariamente.

Capa do primeiro volume da série

Arthur Dent, o protagonista, é o inglês padrão. Seu amigo Ford Prefect, é um pesquisador de campo e redator do Guia do Mochileiro das Galáxias originário de um pequeno planeta perto de Betelgeuse. Ford é também o responsável por salvar Arthur nos momentos finais da Terra, conseguindo uma carona numa das Naves Vogons de Demolição que estavam em órbita.

Os Vogons são uma raça conhecida por ser extremamente burocrática, e péssimos em poesia. Na realidade, a poesia Vogon acaba sendo mais chocante que a própria burocracia, e usada como forma de tortura em alguns lugares.

Logo eles conseguem escapar, e são resgatados pela nave Coração de Ouro, onde Arthur conhece o Presidente da Galáxia, Zaphod Beeblebrox, que tem 3 braços e 2 cabeças, e reencontra Tillian, uma humana que ele conheceu em uma festa à fantasia.

Dentro da Nave Coração de Ouro, que é movida por um motor de improbabilidade infinita (que funciona da seguinte forma: a probabilidade de se viajar para um determinado ponto na galáxia é a mesma de seus tripulantes se transformarem momentaneamente em patinhos de borracha. Então seus tripulantes se transformam em patinhos de borracha momentaneamente e a nave chega à seu destino.), Arthur descobre que Zaphod roubou a nave e está atrás da Pergunta Fundamental Sobre a Vida, o Universo e Tudo o Mais, motivado, em suas próprias palavras por: “curiosidade e um senso de aventura, mas basicamente pela fama e pelo dinheiro”. Graças à nave, presenciamos uma incrível micro-jornada de auto-descobrimento de uma cachalote, e o desânimo de um vaso de petúnias.

Milhões da anos antes, foi criado no Universo um colossal computador chamado Pensador Profundo, com o objetivo de calcular a resposta para a pergunta fundamental sobre a vida, o universo e tudo o mais. O processamento demorou 7 milhões e 500 mil anos, e por fim a resposta foi encontrada: 42. Faltava agora saber qual era exatamente a pergunta.

Arthur Dent, Zaphod Beeblebrox, Tricia ‘Trillian’ MacMillan e Ford Prefect

Tirando os personagens, extremamente carismáticos, e os acontecimentos surreais e o sarcasmo absurdo, a série ainda tem características muito marcantes: as máquinas e robôs, e suas personalidades. Dentro da nave Coração de Ouro, todas as portas são automáticas, e suspiram de satisfação ao realizar um trabalho bem feito. O computador de bordo é super bem-humorado e otimista, e realiza todas as tarefas com grande prazer. Existem os elevadores que preveem o futuro e sempre estão lá, antes de você pensar em apertar o botão.

E temos Marvin. O robô maníaco-depressivo. Com capacidade de processamento muito superior ao do cérebro humano, capazes de cálculos absurdos em velocidades estonteantes, e entretanto forçado a vigiar visitantes, carregar copos de refresco e atividades parecidas.

Marvin - O Andróide Paranóide

“Por acaso eu estou baixando o astral de vocês? Porque eu não queria baixar o astral de vocês.”

“[…]Ô Marvin!
Sentado no canto, o robô levantou a cabeça subitamente, porém em seguida ficou balançando-a ligeiramente. Pôs-se de pé como se fosse uns dois ou três quilos mais pesado do que era na realidade e fez um esforço aparentemente heroico para atravessar o recinto. Parou à frente de Trillian e ficou olhando por cima do ombro esquerdo da moça.
-Acho que devo avisá-los de que estou muito deprimido – disse ele, com uma voz baixa e desesperançada.
-Bem – disse Trillian, num tom de voz alegre e compreensivo – então vou lhe dar alguma coisa para distrair a sua cabeça.
-Não vai dar certo – disse Marvin – Minha mente é tão excepcionalmente grande que uma parte dela vai continuar se preocupando.
-Marvin! – ralhou Trillian.
-Está bem – disse Marvin. – O que é que você quer que eu faça?
-Vá até a baia de entrada número dois e traga os dois seres que estão lá, sob vigilância.
Após uma pausa de um microssegundo, e com uma micromodulação de tom e timbre minuciosamente calculada – impossível se ofender com aquela entonação -, Marvin conseguiu exprimir todo o desprezo e horror que lhe inspirava tudo o que é humano.
-Só isso? – perguntou ele.
-Só – disse Trillian, com firmeza.
-Não vou gostar de fazer isso – disse Marvin[…]”

O Guia do Mochileiro das Galáxias, que dá nome ao livro, é por si um livro dentro da história. Funciona como uma grande enciclopédia e possui verbetes sobre quase tudo o que existe. Entre capítulos da história, várias vezes podemos ler trechos de verbetes do Guia. O estilo em que são escritas dão a personalidade bem humorada e irônica ao livro que está se tornando mais importante que a Enciclopédia Galáctica, em parte por ser ligeiramente mais barato, mas principalmente por trazer em seu verso a mensagem, escrita com letras garrafais e amigáveis, NÃO ENTRE EM PÂNICO!

Letras garrafais e amigáveis!

“A Enciclopédia Galáctica define ‘robô’ como ‘dispositivo mecânico que realiza tarefas humanas’. O departamento de marketing da Companhia Cibernética de Sirius define ‘robô’ como ‘o seu amigão de plástico’.
O Guia do Mochileiro das Galáxias define o departamento de marketing da Companhia Cibernética de Sirius como ‘uma cambada de panacas que devem ser os primeiros a ir para o paredão no dia em que a revolução estourar’.
[…] Curiosamente, uma edição da Enciclopédia Galáctica que, por um feliz acaso, caiu numa descontinuidade do tempo, vinda de mil anos no futuro, definiu o departamento de marketing da Companhia Cibernética de Sirius como ‘uma cambada de panacas que foram os primeiros a ir para o paredão no dia em que a revolução estourou’. […]”

Depois de uma série maluca de acontecimentos e descobertas, o livro deixa o gancho para a continuação. Os personagens estão mortos de fome após tantas aventuras, e decidem que precisam almoçar em algum lugar.

“A história de todas as grandes civilizações galácticas tende a atravessar três fases distintas e identificáveis – as da sobrevivência, da interrogação e da sofisticação, também conhecidas como as fazes do como, do porque e do onde.
Por exemplo, a primeira fase é caracterizada pela pergunta: Como vamos poder comer?
A segunda, pela pergunta: Por que comemos?
E a terceira, pela pergunta: Onde vamos almoçar?

Todos os livros da série ainda darão as caras por aqui.

Aguardem pelo artigo sobre a continuação: O Restaurante no Fim do Universo.

E Lembrem-se! Fiquem atentos nos golfinhos!

O Parque dos Dinossauros (Jurassic Park)

“Nos primeiros esboços da curva fractal, poucas indicações da estrutura matemática subjacente podem ser verificadas. Com as linhas subsequentes da curva fractal, podem aparecer mudanças repentinas. Os detalhes emergem mais claramente conforme se refaz acurva fractal. Inevitavelmente, as instabilidades ocultas começam a se manifestar. As falhas no sistema se tornam agudas. A recuperação do sistema pode se mostrar impossível. Cada vez mais, a matemática exigirá coragem para enfrentar suas implicações.”

Ian Malcom

Capa da versão digital

Ofuscado pelo sucesso da adaptação para o cinema feita por Steven Spielberg, o livro escrito por Michael Crichton e publicado em 1990 foi o escolhido por mim essa semana. Lembro-me que era apaixonado pelo assunto ‘Dinossauros’ quando criança, tendo bonecos, álbum de figurinhas, e ficava assistindo ao mesmo trecho do filme animado da Disney, Fantasia, que contava a história do planeta e passava pelos “lagartos terríveis”. Finalmente ler o livro que inspirou um dos filmes que mais gostei na infância foi uma experiência muito boa.

Tudo começa num hospital em Costa Rica, em que médicos e enfermeiros atendem um paciente de emergência, que teria sofrido um acidente com uma retroescavadeira nas obras de construção de um parque nas proximidades. Todos que o atendem estranham as características do ferimento, e não conseguem salvar o rapaz, que morre após repetir algumas vezes a palavra Raptor. No contexto, os médicos associam ao termo Hupia, que significa sequestrador, em espanhol, a uma lenda local sobre uma criatura que, como um vampiro, se alimenta de sangue das pessoas durante a noite, é capaz de mudar de forma e rapta bebês de seus quartos. Infelizmente, o próprio título do livro destrói qualquer possibilidade de se criar um mistério durante esse capítulo, que no fim das contas acaba servindo apenas para enriquecer a história de detalhes.

Algumas cenas que vemos nas continuações da franquia no cinema também se mostram presente logo no começo do livro, guardadas as pequenas diferenças. A garotinha atacada por pequenos dinossauros (procompsognatos) numa praia, apenas no segundo filme, é um dos ganchos utilizados para apresentar o leitor ao personagem principal, o professor Alan Grant, paleontólogo e completamente avesso a computadores. Foi impossível não associar o personagem imediatamente ao ator que o viveu no cinema, Sam Neill. Desisti de uma vez, e conforme os personagens eram apresentados, automaticamente assumiam a aparência dos atores do filme.

Uma notável diferença entre personagens do livro e do filme está nas crianças, nos netos de John Hammond, Tim e Lex Murphy. Enquanto no filme Lex é a mais velha, no livro ela tem apenas nove anos, e seu irmão Tim, onze. Na minha opinião, eles são os personagens pior desenvolvidos no livro. O garoto é, como qualquer outro de sua idade, apaixonado por dinossauros, característica às vezes exagerada, fazendo com que ele pareça desnecessariamente genial. Sua irmã, por outro lado, parece não se tocar do que acontece ao redor durante grande parte dos acontecimentos, e tem atitudes extremamente infantis em momentos em que isso é completamente incoerente. No fim das contas, o garoto de onze anos aparenta ter uns 16, exceto por suas limitações físicas, e a garota de nove aparenta uns quatro ou cinco anos. Spielberg em sua adaptação, mostra mais uma vez sua capacidade de construir personagens infantis com grande maestria.

Sam Neill como Dr. Alan Grant

Bom, acredito que todos conheçam a história, então não pretendo entrar em detalhes de enredo. Deixarei para os leitores curiosos descobrirem por si as diferenças gritantes entre o livro e o filme. Como uma obra de ficção científica, se propõe a discutir um tema a ela contemporâneo de uma forma metafórica que pode ser mais facilmente aceita pelo leitor. O livro é todo permeado com discussões sobre os usos da engenharia genética, e a ética envolvida ou não nos mesmos. Tudo sempre extremamente preciso e detalhado.

A sequência de acontecimentos é guiada por um modelo de estudo baseado na Teoria do Caos, sendo o matemático Iam Malcom praticamente um vidente durante a história toda. Muitas vezes assumindo o papel de chato, e sempre desacreditado pela equipe do parque, a cada página somos capazes de perceber que ele estava certo desde o começo.

A partir de certo momento, os dinossauros e todos os problemas que acontecem na ilha tornam-se motivadores para uma complexa discussão sobre o papel do homem no planeta, nossa falta de capacidade de prever e controlar os rumos que a vida toma, a fragilidade de nossa existência, e como nos tornamos arrogantes acreditando que nossas atitudes podem prejudicar a vida no planeta de forma irreversível, ao invés de perceber que apenas colocamos em risco nossa própria existência. Discute-se profundamente a ética e a falta dela nas pesquisas científicas atuais, e questiona os famigerados “avanços científicos” de que tanto se falam, mas se mostram ineficientes em esclarecer para o que a ciência serve, e para que ela não serve.

O inesquecível logo do filme de 1993

Um ótimo livro de aventura, cheio de questionamentos filosóficos e lições de matemática teórica. Com uma curva dramática que sobe inacreditavelmente no final, o livro consegue prender a atenção e empolgar praticamente do começo ao fim, exceto nos momentos em que estamos querendo que a garotinha seja devorada logo pelo T-Rex e deixe os outros personagens em paz.

O Parque dos Dinossauros foi publicado no Brasil em 1991, pela Editora Nova Cultural, em edição de 492 páginas.

Descobri logo antes de escrever esse post que o autor escreveu uma continuação, chamada Mundo Perdido (Lost World) em 1996, que também foi utilizada nas adaptações subsequentes para o cinema. Assim que encontrar em algum sebo, lerei e registrarei aqui minha opinião!

Depois de ler esse texto, vá ouvir a trilha sonora do filme, que é mais uma obra prima do grande compositor John Williams!

***

 

Ajude-me a divulgar meu blog! Clique no botão abaixo para que o Blogarama aceite meu cadastro rapidamente!

Blogarama - The Blog Directory