O Restaurante no Fim do Universo – The Restaurant at the End of the Universe

Segundo volume da série Mochileiro das Galáxias

Segundo volume da série Mochileiro das Galáxias

“Existe uma teoria que diz que, se um dia alguém descobrir exatamente para que serve o Universo e por que ele está aqui, ele desaparecerá instantaneamente e será substituído por algo ainda mais estranho e inexplicável.

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Existe uma segunda teoria que diz que isso já aconteceu.”

Continuação direta de O Guia do Mochileiro das Galáxias, O Restaurante no Fim do Universo é o segundo volume da trilogia de cinco livros escrita por Douglas Adams. Neste livro, seguimos acompanhando as aventuras de Arthur, Trillian, Ford, Zaphod e Marvin, logo após o desastroso acidente envolvendo alguns ratos brancos e uma frota de demolição Vogon.

Numa tentativa desesperada de conseguir um pouco de chá para beber, Arthur acidentalmente acaba desviando toda energia e poder de processamento dos computadores da nave Coração de Ouro para o sintetizador de alimentos. Nesse momento de completa vulnerabilidade, são atacados por perseguidores Vogons, e seriam destruídos em apenas 4 minutos. Os quatro minutos mais longos da história do Universo, graças à sessão espírita iniciada por Zaphod, o Presidente da Galáxia, dentro da mesma nave, e a intervenção temporal do espírito de seu bizavô.

Sim, o segundo livro é ainda mais confuso e bizarro que o primeiro. Pelo menos para mim, a história ficou em segundo plano. Sempre que virava uma página, ou avançava um capítulo, esperava por um trecho do Guia, aprofundando um pouco mais o universo criado pelo autor, e revelando suas filosofias muitas vezes ácidas à respeito do mundo real, disfarçado por todo o cenário maluco criado pelo mesmo.

Em algumas páginas descobrimos o que o autor pensa sobre religião, política, a insignificância do homem com relação a infinitude do universo, mas uma das melhores definições é sobre a banda de rock fictícia Disaster Area, que deixa muito claro o desgosto do mesmo sobre rock:

“O Guia do Mochileiro das Galáxias diz que a Disaster Area, uma banda de rock plutoniano das Zonas Mentais de Gagrakacka, é geralmente tida não, apenas como a mais barulhenta de toda a Galáxia, mas também como o maior de todos os barulhos. Os frequentadores habituais dos shows dizem que o melhor lugar para se ouvir um bom som é dentro de grandes bunkers de concreto a uns 60 quilômetros do palco, enquanto os músicos em si tocam os instrumentos por controle remoto a partir de uma espaçonave altamente isolada que fica em órbita em torno do planeta – ou, mais frequentemente, em torno de um planeta completamente diferente. Suas músicas são no geral bastante simples e a maioria segue o tema familiar do ser-masculino que encontra um ser-feminino sob uma lua prateada, que depois explode sem nenhum motivo aparente.”

E as descrições dos efeitos de um show num planeta desértico são descritos de forma parecida. Conta que os poucos sobreviventes da apresentação testemunharam toda a areia do deserto se erguer no céu como uma panqueca de um quilômetro de espessura, que virou e caiu de volta no solo. Um ano depois, aquela região do planeta estava coberta por uma exuberante floresta.

Outro ponto legal da narrativa é o momento em que os personagens se encontram dentro do Restaurante Milliways, localizado no final da linha do tempo. Lá os personagens podem almoçar tranquilamente, sabendo que suas contas foram pagas milhares de anos atrás, ao depositarem um centavo na conta bancária do restaurante e deixarem a correção monetária se encarregar do resto. Enquanto fazem seus pedidos, os personagens conhecem um boi, manipulado geneticamente durante sua concepção para que fosse a favor de ser morto para virar alimento, contrariando todas as expectativas de centenas de milhares de habitantes da Galáxia que optam pelo vegetarianismo. O boi chega até mesmo a indicar quais partes de seu corpo estão mais apetitosas.

Essa cena está presente inclusive, na bizarra adaptação da história feita para a tv pela BBC, o boi sendo misteriosamente substituído por um porco:

O livro ainda conta com várias outras passagens memoráveis, como a passagem de Zaphod pelo planeta mais perigoso da Galáxia, seu posterior encontro com o Homem que Comanda Tudo, algumas viagens desastrosas no tempo que acabam obrigando Marvin a aguentar a eternidade umas duas vezes, e o encontro de Arthur e Ford com nossos ancestrais primitivos.

Muitos acontecimentos nonsense num livro de apenas 173 páginas. Vale a leitura.

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Alta Fidelidade – High Fidelity

Passei as duas últimas semanas lendo um livro emprestado por um grande amigo. Comecei diversas vezes e nunca cheguei no final, até hoje. Alta Fidelidade é um romance inglês, escrito por Nick Hornby e publicado em 1995.

alta fidelidadeCompletamente despretensioso, o romance narra de forma bem humorada e objetiva a vida e o estado de espírito de Rob Fleming imediatamente depois de sua separação de sua namorada Laura. Acontece que Rob não é o homem idealizado pelas mulheres, que faria de tudo por sua “musa inspiradora”. Ele é mais real, cheio de medos e inseguranças, e se esconde atrás de uma enorme coleção de discos, e suas intermináveis listas de Top 5. Tanto que o livro começa com Rob fazendo a lista das Cinco Piores Separações que já viveu, e insiste em dizer que Laura não se encontra entre elas.

Rob é um viciado em música pop, capaz de julgar as pessoas pelos discos que ouvem. Consegue ver no simples ato de gravar uma fita para alguém, um milhão de significados. É dono de uma loja de vinis quase falida, e seus dois funcionários, Dick e Barry, completamente estranhos e antagônicos. O primeiro extremamente introspectivo e tímido, e o segundo muitas vezes agressivo e invasivo. A dinâmica entre Rob e seus funcionários rende alguns dos melhores diálogos do livro, e com certeza grandes indicações de músicas, que você deveria procurar conhecer.

“Enfim, aqui está como não planejar uma carreira: a) separe-se de uma namorada; b) largue a faculdade; c) vá trabalhar numa loja de discos; d) fique em lojas de discos o resto da vida. Você pega aqueles retratos das pessoas em Pompéia e pensa, que estranho: um jogo de dados depois do chá e você é congelado, e é assim que as pessoas lembram de você nos próximos milhares de anos. Suponhamos que fosse o primeiro lance de dados que você jogasse na vida? Suponhamos que você só estivesse jogando para fazer companhia ao seu amigo, o Augustos? Suponhamos que naquele exato momento tivesse acabado um poema brilhante, ou algo assim? Não seria irritante ser celebrado como um jogador de dados? Às vezes eu olho para a minha loja (sim, porque eu não fiquei marcando bobeira nesses últimos catorze anos! Há uns dez anos peguei dinheiro emprestado e abri minha própria loja!) e para os meus fregueses habituais de sábado, e sei exatamente como aqueles habitantes de Pompéia devem se sentir, se é que podem sentir alguma coisa (embora o fato de que não possam seja o que interesse neles).”

John Cusack no papel de Rob Gordon (no filme, não é Rob Fleming) e sua coleção de discos.

John Cusack no papel de Rob Gordon (no filme, não é Rob Fleming) e sua coleção de discos.

Algumas características da narrativa a tornam agradáveis à leitura, como a linguagem informal utilizada em toda sua extensão, os diálogos curtos, monólogos interiores do protagonista, e a transição entre o passado e o presente da história. O autor demonstra alto controle do sarcasmo e ironia, tornando sua obra um retrato nada medíocre da vida de um homem.

Pontos altos da história acontecem quando Rob vai atrás das suas cinco ex-namoradas presentes na lista das cinco piores separações, e o balanço que faz entre a realidade atual delas e o que fantasiava sobre as mesmas. Nota-se durante essas passagens, e durante o breve e incomum relacionamento com uma cantora americana, o relutante crescimento interior do personagem, que em nenhum momento quer admitir que sente falta de Laura.

Algo que me agradou bastante foi o final do livro, que não se parece com qualquer término de livro que eu já tenha lido, deixando vários pontos em aberto, ao mesmo tempo concluindo assuntos importantes. É como o fim de um dia típico de nossas vidas, onde terminamos algumas tarefas, chegamos a algumas conclusões, mas deixamos muitos outros assuntos em aberto.

O livro é publicado pela Editora Rocco, em uma edição de 264 páginas.

Ah, o livro deu origem a um filme igualmente incrível!

O Guia do Mochileiro das Galáxias – The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy

“Muito além, nos confins inexplorados da região mais brega da Borda Ocidental desta Galáxia, há um pequeno sol amarelo e esquecido.

Girando em torno deste sol, a uma distância de cerca de 148 milhões de quilômetros, há um planetinha verde-azulado absolutamente insignificante, cujas formas de vida, descendentes de primatas, são tão extraordinariamente primitivas que ainda acham que relógios digitais são uma grande ideia.

Este planeta tem – ou melhor, tinha – o seguinte problema: a maioria de seus habitantes estava quase sempre infeliz. Foram sugeridas muitas soluções para esse problema, mas a maior parte delas dizia respeito basicamente à movimentação de pequenos pedaços de papel colorido com números impressos, o que é curioso, já que no geral não eram os tais pedaços de papel colorido que se sentiam infelizes.

E assim o problema continuava sem solução. Muitas pessoas eram más, e a maioria delas era muito infeliz, mesmo as que tinham relógios digitais.

Um número cada vez maior de pessoas acreditava que havia sido um erro terrível da espécie descer das árvores. Algumas diziam que até mesmo subir nas árvores tinha sido uma péssima ideia, e que ninguém jamais deveria ter saído do mar.

E então, uma quinta-feira, quase dois mil anos depois que um homem foi pregado num pedaço de madeira por ter dito que seria ótimo se as pessoas fossem legais umas com as outras para variar, uma garota, sozinha numa pequena lanchonete em Rickmansworth, de repente compreendeu o que tinha dado errado todo esse tempo e finalmente descobriu como o mundo poderia se tornar um lugar bom e feliz. Desta vez estava tudo certo, ia funcionar, e ninguém teria que ser pregado em coisa nenhuma.

Infelizmente, porém, antes que ela pudesse telefonar para alguém e contar sua descoberta, aconteceu uma catástrofe terrível e idiota, e a ideia perdeu-se para todo o sempre[…]”

Douglas Adams – o gênio por trás dessa maluquice toda!

Assim começa um dos livros mais irônicos e dinâmicos que já li na vida. Escrita por Douglas Adams em 1977, originalmente para ser uma rádio-novela da BBC e posteriormente compilado na conhecida “trilogia de cinco livros”, a série é uma grande história de humor nonsense recheada de filosofia nas entrelinhas. Impossível não se identificar nem um pouco com a obra.

A história fala basicamente sobre a raça humana, apesar de começar alguns minutos antes da destruição do planeta Terra, que foi demolido para a construção de uma via expressa hiperespacial, parte de um plano para o desenvolvimento de regiões periféricas da galáxia. Os primeiros capítulos são suficientes para que o leitor perceba o tom de toda a série: a extrapolação absurda de problemas mundanos. Colocando as coisas em tal perspectiva, é quase ridículo analisar os grandes problemas por quais passamos diariamente.

Capa do primeiro volume da série

Arthur Dent, o protagonista, é o inglês padrão. Seu amigo Ford Prefect, é um pesquisador de campo e redator do Guia do Mochileiro das Galáxias originário de um pequeno planeta perto de Betelgeuse. Ford é também o responsável por salvar Arthur nos momentos finais da Terra, conseguindo uma carona numa das Naves Vogons de Demolição que estavam em órbita.

Os Vogons são uma raça conhecida por ser extremamente burocrática, e péssimos em poesia. Na realidade, a poesia Vogon acaba sendo mais chocante que a própria burocracia, e usada como forma de tortura em alguns lugares.

Logo eles conseguem escapar, e são resgatados pela nave Coração de Ouro, onde Arthur conhece o Presidente da Galáxia, Zaphod Beeblebrox, que tem 3 braços e 2 cabeças, e reencontra Tillian, uma humana que ele conheceu em uma festa à fantasia.

Dentro da Nave Coração de Ouro, que é movida por um motor de improbabilidade infinita (que funciona da seguinte forma: a probabilidade de se viajar para um determinado ponto na galáxia é a mesma de seus tripulantes se transformarem momentaneamente em patinhos de borracha. Então seus tripulantes se transformam em patinhos de borracha momentaneamente e a nave chega à seu destino.), Arthur descobre que Zaphod roubou a nave e está atrás da Pergunta Fundamental Sobre a Vida, o Universo e Tudo o Mais, motivado, em suas próprias palavras por: “curiosidade e um senso de aventura, mas basicamente pela fama e pelo dinheiro”. Graças à nave, presenciamos uma incrível micro-jornada de auto-descobrimento de uma cachalote, e o desânimo de um vaso de petúnias.

Milhões da anos antes, foi criado no Universo um colossal computador chamado Pensador Profundo, com o objetivo de calcular a resposta para a pergunta fundamental sobre a vida, o universo e tudo o mais. O processamento demorou 7 milhões e 500 mil anos, e por fim a resposta foi encontrada: 42. Faltava agora saber qual era exatamente a pergunta.

Arthur Dent, Zaphod Beeblebrox, Tricia ‘Trillian’ MacMillan e Ford Prefect

Tirando os personagens, extremamente carismáticos, e os acontecimentos surreais e o sarcasmo absurdo, a série ainda tem características muito marcantes: as máquinas e robôs, e suas personalidades. Dentro da nave Coração de Ouro, todas as portas são automáticas, e suspiram de satisfação ao realizar um trabalho bem feito. O computador de bordo é super bem-humorado e otimista, e realiza todas as tarefas com grande prazer. Existem os elevadores que preveem o futuro e sempre estão lá, antes de você pensar em apertar o botão.

E temos Marvin. O robô maníaco-depressivo. Com capacidade de processamento muito superior ao do cérebro humano, capazes de cálculos absurdos em velocidades estonteantes, e entretanto forçado a vigiar visitantes, carregar copos de refresco e atividades parecidas.

Marvin - O Andróide Paranóide

“Por acaso eu estou baixando o astral de vocês? Porque eu não queria baixar o astral de vocês.”

“[…]Ô Marvin!
Sentado no canto, o robô levantou a cabeça subitamente, porém em seguida ficou balançando-a ligeiramente. Pôs-se de pé como se fosse uns dois ou três quilos mais pesado do que era na realidade e fez um esforço aparentemente heroico para atravessar o recinto. Parou à frente de Trillian e ficou olhando por cima do ombro esquerdo da moça.
-Acho que devo avisá-los de que estou muito deprimido – disse ele, com uma voz baixa e desesperançada.
-Bem – disse Trillian, num tom de voz alegre e compreensivo – então vou lhe dar alguma coisa para distrair a sua cabeça.
-Não vai dar certo – disse Marvin – Minha mente é tão excepcionalmente grande que uma parte dela vai continuar se preocupando.
-Marvin! – ralhou Trillian.
-Está bem – disse Marvin. – O que é que você quer que eu faça?
-Vá até a baia de entrada número dois e traga os dois seres que estão lá, sob vigilância.
Após uma pausa de um microssegundo, e com uma micromodulação de tom e timbre minuciosamente calculada – impossível se ofender com aquela entonação -, Marvin conseguiu exprimir todo o desprezo e horror que lhe inspirava tudo o que é humano.
-Só isso? – perguntou ele.
-Só – disse Trillian, com firmeza.
-Não vou gostar de fazer isso – disse Marvin[…]”

O Guia do Mochileiro das Galáxias, que dá nome ao livro, é por si um livro dentro da história. Funciona como uma grande enciclopédia e possui verbetes sobre quase tudo o que existe. Entre capítulos da história, várias vezes podemos ler trechos de verbetes do Guia. O estilo em que são escritas dão a personalidade bem humorada e irônica ao livro que está se tornando mais importante que a Enciclopédia Galáctica, em parte por ser ligeiramente mais barato, mas principalmente por trazer em seu verso a mensagem, escrita com letras garrafais e amigáveis, NÃO ENTRE EM PÂNICO!

Letras garrafais e amigáveis!

“A Enciclopédia Galáctica define ‘robô’ como ‘dispositivo mecânico que realiza tarefas humanas’. O departamento de marketing da Companhia Cibernética de Sirius define ‘robô’ como ‘o seu amigão de plástico’.
O Guia do Mochileiro das Galáxias define o departamento de marketing da Companhia Cibernética de Sirius como ‘uma cambada de panacas que devem ser os primeiros a ir para o paredão no dia em que a revolução estourar’.
[…] Curiosamente, uma edição da Enciclopédia Galáctica que, por um feliz acaso, caiu numa descontinuidade do tempo, vinda de mil anos no futuro, definiu o departamento de marketing da Companhia Cibernética de Sirius como ‘uma cambada de panacas que foram os primeiros a ir para o paredão no dia em que a revolução estourou’. […]”

Depois de uma série maluca de acontecimentos e descobertas, o livro deixa o gancho para a continuação. Os personagens estão mortos de fome após tantas aventuras, e decidem que precisam almoçar em algum lugar.

“A história de todas as grandes civilizações galácticas tende a atravessar três fases distintas e identificáveis – as da sobrevivência, da interrogação e da sofisticação, também conhecidas como as fazes do como, do porque e do onde.
Por exemplo, a primeira fase é caracterizada pela pergunta: Como vamos poder comer?
A segunda, pela pergunta: Por que comemos?
E a terceira, pela pergunta: Onde vamos almoçar?

Todos os livros da série ainda darão as caras por aqui.

Aguardem pelo artigo sobre a continuação: O Restaurante no Fim do Universo.

E Lembrem-se! Fiquem atentos nos golfinhos!