O Médico e o Monstro (The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde)

Capa da primeira edição, publicada em 1886.

Escrita por Robert Louis Stevenson, e publicada através de folhetins durante 1886, a obra foi considerada um excelente livro de suspense e terror, deixando marcas na literatura do gênero até hoje. Um clássico instantâneo.

Com linguagem simples e de fácil compreensão, foi escrita para o grande público, que já admirava o autor por sua obra anterior, A Ilha do Tesouro.

O livro retrata uma Londres misteriosa e perigosa. A tensão paira no ar juntamente com a névoa espessa que bloqueia a visão, torna a respiração difícil e transforma os postes a gás em brilhantes gemas preciosas, capazes de trespassar as camadas opressoras do nevoeiro, e da sociedade de então.

É ambientada no final do século XIX, época em que o contraste entre as classes sociais era gritante, onde cada vez mais os industriais se distanciavam dos miseráveis. Londres, a cidade hipócrita, durante o dia um local de trabalho pesado e honesto, e a noite, entregue a todos os vícios. Hipocrisia essa que é um dos maiores motivos da obra.

Dr. Jekyll, um médico filantropo conhecido e respeitado, era um homem dividido entre sua aparência e seus desejos reprimidos durante toda sua vida virtuosa. Busca na ciência e na química, um meio de se libertar desse lado sombrio que percebe fazer parte de seu ser, e cria uma fórmula que julga ser capaz de separar definitivamente seu ‘lado bom’ de seu ‘lado ruim’. Entretanto, como observa depois, talvez por ser movido por uma ambição egoísta, a fórmula trouxe toda a obscuridade de sua personalidade a tona, de uma forma tão poderosa que foi capaz de mudar sua aparência e estatura. Esqueça o Mr. Hyde retratado no cinema, como um monstro grande e forte. O monstro aqui existe, mas em suas concepções morais (ou na falta delas), e não na aparência. Mr. Hyde é representado como um homenzinho baixo, atarracado e franzino, por ter sido um aspecto pouco exercitado na vida de Dr. Jekyll. Mas pelo mesmo motivo, também é muito mais jovem, e essa juventude faz com que Jekyll sinta-se tentado a viver  um pouco na pele de Hyde, usando-a como o disfarce perfeito para se entregar aos vícios sem macular a imagem do bom doutor.

Como a capa retrata bem as ruas enevoadas descritas no livro.

Com o tempo, a personalidade de Hyde começa a sobrepujar a de Jekyll, que se torna fraco e doente. O misantropo Hyde comete atrocidades que chamam a atenção da Scotland Yard (é a primeira participação da instituição em uma obra de ficção) e o tornam um homem temido e procurado. Com as transformações físicas fora de controle, a fórmula acabando e impossibilitado de conseguir mais ingredientes, Dr. Jekyll passa a ser um homem cada vez mais recluso, misterioso e amargurado. Seus amigos descobrem a verdade num momento em que não há mais nada a se fazer por ele.

O livro todo é um ensaio sobre consciente e subconsciente, e isso se torna mais claro quando lemos os capítulos finais, escritos em primeira pessoa de maneira epistolar (utilizam-se do formato de cartas para contar a história). Também questiona os avanços científicos da época, embora hoje em dia esse aspecto da obra acabe passando quase que batido para nós leitores.

Embora seja um livro curto, apenas 130 páginas, a profundidade da história foi tamanha, que influencia o gênero até hoje. Dele, surgiram diversas adaptações para o cinema, quadrinhos, diversos desenhos animados, séries de televisão e até mesmo música. De acordo com a Wikipedia, a expressão “Jekyll and Hyde” tornou-se parte do jargão inglês, usada para indicar uma pessoa que age de forma moralmente diferente dependendo da situação.

Li a versão de bolso da Editora Martin Claret. O texto é integral.

Gostei, e recomendo!

6 comentários em “O Médico e o Monstro (The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde)

  1. Rike disse:

    Curioso como muitos livros publicados nessa época (quase todos em forma de folhetim), procuravam, mesmo que de forma camuflada, criticar a sociedade industrial que havia surgido. Livros como esse, que descrevem o ambiente do autor na época que o livro foi escrito, podem ser usados até como registro histórico factual, já que as passagens nele representadas refletem aspectos cotidianos da época.

  2. Carla Lazzari disse:

    Adorei. Conhecia só a fama dessa obra, mas não a história exata. Com certeza um livro que foi pra minha lista.

  3. Esther disse:

    Muito bom!

  4. disse:

    Você escreve tão bem que dá vontade de sair correndo para a livraria mais próxima e comprar o livro! Me pareceu sensacional!

    • Leo disse:

      Nossa, muito obrigado!
      Tem muito o que melhorar ainda, mas já sinto mais facilidade de escrever agora do que quando comecei o blog. Muito bacana!

  5. Bruno disse:

    Agora é mais um dos Livros Que Eu Pretendia Ler E Que Agora Quero Mais Ainda, haha. Dá pra perceber isso mesmo que o Rike comentou, do autor acabar criticando a época dele, de uma maneira ou de outra. Imagino se a profusão de livros de fantasia e de cunho erótico que aparecem hoje em dia não estão sendo indicadores de coisas que estão nos faltando (ou sobrando) ultimamente.

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