A História Sem Fim – Die Unendliche Geschichte

“Todas as verdadeiras histórias são Histórias Sem Fim! […] Há muitas portas para Fantasia, meu rapaz. Há muitos outros livros mágicos. Muitas pessoas nunca percebem isso. Tudo depende da pessoa em cujas mãos o livro vai parar”

Escrito por Michael Ende e publicado em 1979, A História Sem Fim é ironicamente o livro que me tomou mais tempo para ler desde que eu comecei a escrever este blog. Riquíssimo em detalhes e descrições, o texto pinta diversos cenários e personagens na mente do leitor.

Capa original da edição alemã.

A História Sem Fim é um livro dentro do livro, que é lido e vivido pelo protagonista Bastian Balthazar Bux, um garotinho gordo, pálido e covarde, constantemente perseguido e humilhado por colegas de escola. Tudo começa quando, ao fugir desses colegas, Bastian entra numa livraria alfarrabista (vulgo Sebo) e encontra um livro que prende completamente seu olhar. A capa era de seda cor-de-cobre e brilhava quando o livro era mudado de posição. Havia ainda um símbolo na capa: duas serpentes, uma clara e outra escura, cada uma mordendo a cauda da outra. Tomado por um impulso anormal, Bastian rouba o livro e se refugia no sótão da escola, onde ficaria até o final de sua leitura.

Capa do filme, de 1984, dirigido por Wolgang Petersen.

Toda a primeira metade do livro é extremamente rica em detalhes visuais. Conhecemos Atreiú e sua missão, de encontrar a cura para a Imperatriz Criança, poder máximo do reino de Fantasia, que está definhando de uma misteriosa doença. Ao mesmo tempo, descobrimos que um grande mal paira sobre esse reino. O Nada, que a cada instante consome mais e mais domínios de fantasia. Atreiú deve vagar por Fantasia em busca da cura, sendo guiado apenas pelo AURIN, a “Jóia”, o “Brilho”, a insígnia da imperatriz, que faz com que seja respeitado por toda as criaturas que habitam Fantasia, boas ou más, belas ou feias, sábias ou loucas.

Em dado momento, Atreiú encontra um dragão da sorte, uma gigantesca serpente com escamas de madrepérola e cabeça de leão, capaz de cuspir chamas azuis, chamado Fuchur (e que no filme seria chamado de Falkor). Juntos alcançam o Oráculo do Sul, onde Atreiú descobre que nenhum ser de Fantasia poderia salvar sua imperatriz. Apenas um filho de Adão, um humano, um habitante do mundo de fora, poderia curá-la, dando um novo nome para ela. Nesse momento Bastian tem certeza que o livro que lê está se referindo a ele. Atreiú separa-se de Fuchur por acidente, e encontra-se com o lobisomem Gmork, a personificação bestial do Nada, que nesse momento já consumiu Fantasia quase por completo. O Nada também é um ser de fora, e do diálogo dos dois surgem conceitos que dificilmente uma criança compreenderia, o que torna o livro mais que uma simples obra infanto-juvenil. O pensamento proposto por esse diálogo é muito mais profundo e remete à facilidade com que alguém é capaz de acreditar em mentiras. Pesquisando um pouco sobre o autor (como costumo fazer sempre antes de vir escrever aqui), descobri que o mesmo é um dos mais famosos escritores do pós-guerra alemão, e seu discurso está intimamente ligado à sua realidade:

“- Calma, pequeno louco, rosnou o lobisomem. Quando chegar a sua vez de saltar para o Nada, você se transformará também num servidor do poder, desfigurado e sem vontade própria. Quem sabe para o que vai servir. É possível que, com sua ajuda, se possam convencer os homens a comprar o que não necessitam, a odiar o que não conhecem, a acreditar no que os domina ou a duvidar do que os podia salvar. Por seu intermédio, pequenos seres de fantasia, fazem-se grandes negócios no mundo dos homens, desencadeiam-se guerras, fundam-se impérios…”.

O Lobisomem Gmork, o agente do Nada.

O nome do protagonista é parte importante para total compreensão da obra, afinal ele é o bastião, o grande salvador protetor de Fantasia. Quando Bastian finalmente intervém e dá um novo nome à Imperatriz Criança, começa a segunda parte do livro. Aliás, para minha surpresa, o livro conta muito mais que o famoso filme de 1984, que termina justamente nesse momento.

O AURIN, muito mais bonito no filme do que o descrito no livro. Falei!

Desse ponto para frente, todo o tom da narrativa muda. Tudo torna-se muito filosófico e intimista. Bastian é tragado para dentro a história, recebe o AURIN, que realizará cada desejo seu dentro de Fantasia. Logo de cara, o garoto começa a usar seus desejos para mudar nele tudo o que lhe incomoda: tornou-se belo, forte, ágil e corajoso. Entretanto, ao contrário dele, podemos perceber que todos os desejos tem um preço, e aos poucos ele vai perdendo suas memórias, se esquecendo de quem é e de onde veio.

Não vou me estender muito falando sobre essa segunda parte do livro, já que pode ser inédita para a maioria dos leitores daqui do blog, uma vez que não está presente no filme e em nenhuma de suas continuações. Posso adiantar apenas que, conforme Bastian enche Fantasia de novas histórias, torna-se cada vez mais vazio, a ponto de esquecer seu nome e tornar-se um perigo para seus habitantes. Atreiú e Fuchur ainda desempenhariam papéis importantes nessa segunda etapa da história.

Capa do livro, como ele aparece no filme.

Impresso pela Editora Martins Fontes em duas cores, verde e vinho, o livro tem 392 páginas, e é composto por 26 capítulos, cada um iniciado por uma letra do alfabeto, ricamente ilustrada e ornamentada. É um livro que se transforma durante a leitura. Começa leve, e a cada capítulo deixa o leitor mais angustiado e curioso. Sua complexidade o torna indicado para ser lido por adultos, que terão um aproveitamento bastante diferente de uma criança.

P.S.: Sim, eu sei que estou atrasado com os post do blog! Mas tentarei correr com um livro no fim de semana e recuperar um pouco do atraso. E pegarei livros maiores quando começarem as férias da faculdade.

A Máquina do Tempo – The Time Machine

“Um alien em seu próprio planeta”

Escrito em 1895 por H(erbert) G(eorge) Wells quando o mesmo tinha 29 anos, especula-se que tenha sido o primeiro livro a tratar sobre viagens o tempo. O livro foi veículo para sua visão de mundo, e de quebra trouxe a exploração de novas temáticas para a literatura.

Nele, o protagonista conhecido apenas como Viajante do Tempo, desenvolve uma máquina capaz de avançar e retroceder no tempo, baseado em seus estudos aprofundados sobre geometria espacial e matemática. Ansioso por testar a máquina recém construída, senta-se nela e começa a avançar no tempo. Surpreso pelo mal-estar causado pela viagem, acaba perdendo um pouco a noção de quanto tempo se passou, e vai parar no ano de 802.701. O mundo de então lhe parece paradisíaco, a natureza cresce exuberante sem a presença de grandes cidades, e uma raça de pequenas criaturas remanescentes dos humanos, os dóceis Elóis, vive sem qualquer tipo de preocupações.

H. G. Wells em 1943

O Viajante do Tempo passa alguns momentos tranquilos em companhia dos Elóis, se alimentando com eles de pequenas e doces frutas, e tentando aprender o idioma do povo, que é extremamente simples. Suas frases são compostas de no máximo 3 palavras, e quase que totalmente por substantivos concretos e adjetivos. Então ele descobre que sua máquina do tempo não está onde foi deixada.

Desesperado, começa a explorar as proximidades em busca de seu veículo temporal, e a única forma de sair daquele mundo belo, porém simplório demais para as ambições de um cientista. Encontra monumentos inexplicáveis, prováveis traços de uma época de grande poder da raça humana, e descobre rastros de sua máquina do tempo que o levam até uma porta de bronze fechada, que ele não tem condições de abrir.

À princípio, o protagonista acredita que a vitória final da humanidade sobre as forças da natureza fez com que o homem não tivesse mais dificuldades à enfrentar, e isso causou a diminuição de sua força física e inteligência. Entretanto, ele não consegui entender como os Elóis tinham tudo o que precisavam sem o menor esforço, indústria ou confecção. E quanto mais do mundo vai conhecendo, mais estranha começa a considerar toda aquela realidade.

A Máquina do Tempo, como imaginada para o cinema em 1960.

Durante uma de suas caminhadas, tem o primeiro contato com um espécime da raça dos Morlocks, predadores subterrâneos que aterrorizam os Elóis, principalmente durante as noites de lua nova. O Viajante do Tempo entra em um poço atrás de um Morlock,  chega numa caverna localizada uns 200 metros no subsolo. Ouve barulhos incessantes de máquinas, e percebe que as criaturas são tanto operárias que trabalham para manter a sociedade dos Elóis, quanto predadores dos mesmos. Começa então a filosofar sobre a evolução do mundo considerando a evolução das classes trabalhadora e dominante. Os Elóis, uma vez a classe dominante, não queriam contato com os operários, e realocaram a indústria no subterrâneo do planeta, mantendo o conforto da superfície para si. Mas milênios de evolução tornaram-nos fracos, e os operários mantiveram alguma inteligência e força física, devido às necessidades e esforços realizados por sua casta.

Misturando ficção científica com certa dose de sociologia, H. G. Wells constrói um cenário perturbador que mostra a extrapolação máxima da visão capitalista de sua época.

Seu personagem supera alguns conflitos, não sem sofrer algumas perdas importantes, recupera sua máquina e resolve avançar mais ainda no tempo. Avança até onde parece ser impossível imaginar, e presencia o crepúsculo final, o momento em que o sol se apaga no sistema solar. Debilitado pelo ar rarefeito e pelas aventuras anteriores, volta ao seu tempo, e relata suas experiências à um grupo de amigos, que encaram tudo como uma grande obra de ficção. O autor inclusive faz um certo uso de metalinguagem, quando um dos ouvintes sugere ao Viajante que ele escreva um livro.

A Máquina do Tempo, reinventada para a versão cinematográfica de 2002

A obra foi adaptada para o cinema duas vezes, uma em 1960, com Rod Taylor no papel do Viajante do Tempo, que recebeu o nome de George. A outra versão é de 2002, dirigida por Gore Verbinske e Simon Wells – este último bisneto de H. G. Wells – com Guy Pierce no papel principal. Esta segunda versão trouxe várias mudanças para a obra, e foi amplamente criticada por conta disso.

Apesar de sua linguagem antiga e rebuscada, é uma leitura rápida e envolvente, e você quer saber o que está realmente acontecendo naquele mundo. Não aprofunda muito nos personagens, pois claramente não é esse o foco da obra, infelizmente.

É atualmente publicado no Brasil pela Editora Alfaguara/Objetiva, em edição de 152 páginas.

O Guia do Mochileiro das Galáxias – The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy

“Muito além, nos confins inexplorados da região mais brega da Borda Ocidental desta Galáxia, há um pequeno sol amarelo e esquecido.

Girando em torno deste sol, a uma distância de cerca de 148 milhões de quilômetros, há um planetinha verde-azulado absolutamente insignificante, cujas formas de vida, descendentes de primatas, são tão extraordinariamente primitivas que ainda acham que relógios digitais são uma grande ideia.

Este planeta tem – ou melhor, tinha – o seguinte problema: a maioria de seus habitantes estava quase sempre infeliz. Foram sugeridas muitas soluções para esse problema, mas a maior parte delas dizia respeito basicamente à movimentação de pequenos pedaços de papel colorido com números impressos, o que é curioso, já que no geral não eram os tais pedaços de papel colorido que se sentiam infelizes.

E assim o problema continuava sem solução. Muitas pessoas eram más, e a maioria delas era muito infeliz, mesmo as que tinham relógios digitais.

Um número cada vez maior de pessoas acreditava que havia sido um erro terrível da espécie descer das árvores. Algumas diziam que até mesmo subir nas árvores tinha sido uma péssima ideia, e que ninguém jamais deveria ter saído do mar.

E então, uma quinta-feira, quase dois mil anos depois que um homem foi pregado num pedaço de madeira por ter dito que seria ótimo se as pessoas fossem legais umas com as outras para variar, uma garota, sozinha numa pequena lanchonete em Rickmansworth, de repente compreendeu o que tinha dado errado todo esse tempo e finalmente descobriu como o mundo poderia se tornar um lugar bom e feliz. Desta vez estava tudo certo, ia funcionar, e ninguém teria que ser pregado em coisa nenhuma.

Infelizmente, porém, antes que ela pudesse telefonar para alguém e contar sua descoberta, aconteceu uma catástrofe terrível e idiota, e a ideia perdeu-se para todo o sempre[…]”

Douglas Adams – o gênio por trás dessa maluquice toda!

Assim começa um dos livros mais irônicos e dinâmicos que já li na vida. Escrita por Douglas Adams em 1977, originalmente para ser uma rádio-novela da BBC e posteriormente compilado na conhecida “trilogia de cinco livros”, a série é uma grande história de humor nonsense recheada de filosofia nas entrelinhas. Impossível não se identificar nem um pouco com a obra.

A história fala basicamente sobre a raça humana, apesar de começar alguns minutos antes da destruição do planeta Terra, que foi demolido para a construção de uma via expressa hiperespacial, parte de um plano para o desenvolvimento de regiões periféricas da galáxia. Os primeiros capítulos são suficientes para que o leitor perceba o tom de toda a série: a extrapolação absurda de problemas mundanos. Colocando as coisas em tal perspectiva, é quase ridículo analisar os grandes problemas por quais passamos diariamente.

Capa do primeiro volume da série

Arthur Dent, o protagonista, é o inglês padrão. Seu amigo Ford Prefect, é um pesquisador de campo e redator do Guia do Mochileiro das Galáxias originário de um pequeno planeta perto de Betelgeuse. Ford é também o responsável por salvar Arthur nos momentos finais da Terra, conseguindo uma carona numa das Naves Vogons de Demolição que estavam em órbita.

Os Vogons são uma raça conhecida por ser extremamente burocrática, e péssimos em poesia. Na realidade, a poesia Vogon acaba sendo mais chocante que a própria burocracia, e usada como forma de tortura em alguns lugares.

Logo eles conseguem escapar, e são resgatados pela nave Coração de Ouro, onde Arthur conhece o Presidente da Galáxia, Zaphod Beeblebrox, que tem 3 braços e 2 cabeças, e reencontra Tillian, uma humana que ele conheceu em uma festa à fantasia.

Dentro da Nave Coração de Ouro, que é movida por um motor de improbabilidade infinita (que funciona da seguinte forma: a probabilidade de se viajar para um determinado ponto na galáxia é a mesma de seus tripulantes se transformarem momentaneamente em patinhos de borracha. Então seus tripulantes se transformam em patinhos de borracha momentaneamente e a nave chega à seu destino.), Arthur descobre que Zaphod roubou a nave e está atrás da Pergunta Fundamental Sobre a Vida, o Universo e Tudo o Mais, motivado, em suas próprias palavras por: “curiosidade e um senso de aventura, mas basicamente pela fama e pelo dinheiro”. Graças à nave, presenciamos uma incrível micro-jornada de auto-descobrimento de uma cachalote, e o desânimo de um vaso de petúnias.

Milhões da anos antes, foi criado no Universo um colossal computador chamado Pensador Profundo, com o objetivo de calcular a resposta para a pergunta fundamental sobre a vida, o universo e tudo o mais. O processamento demorou 7 milhões e 500 mil anos, e por fim a resposta foi encontrada: 42. Faltava agora saber qual era exatamente a pergunta.

Arthur Dent, Zaphod Beeblebrox, Tricia ‘Trillian’ MacMillan e Ford Prefect

Tirando os personagens, extremamente carismáticos, e os acontecimentos surreais e o sarcasmo absurdo, a série ainda tem características muito marcantes: as máquinas e robôs, e suas personalidades. Dentro da nave Coração de Ouro, todas as portas são automáticas, e suspiram de satisfação ao realizar um trabalho bem feito. O computador de bordo é super bem-humorado e otimista, e realiza todas as tarefas com grande prazer. Existem os elevadores que preveem o futuro e sempre estão lá, antes de você pensar em apertar o botão.

E temos Marvin. O robô maníaco-depressivo. Com capacidade de processamento muito superior ao do cérebro humano, capazes de cálculos absurdos em velocidades estonteantes, e entretanto forçado a vigiar visitantes, carregar copos de refresco e atividades parecidas.

Marvin - O Andróide Paranóide

“Por acaso eu estou baixando o astral de vocês? Porque eu não queria baixar o astral de vocês.”

“[…]Ô Marvin!
Sentado no canto, o robô levantou a cabeça subitamente, porém em seguida ficou balançando-a ligeiramente. Pôs-se de pé como se fosse uns dois ou três quilos mais pesado do que era na realidade e fez um esforço aparentemente heroico para atravessar o recinto. Parou à frente de Trillian e ficou olhando por cima do ombro esquerdo da moça.
-Acho que devo avisá-los de que estou muito deprimido – disse ele, com uma voz baixa e desesperançada.
-Bem – disse Trillian, num tom de voz alegre e compreensivo – então vou lhe dar alguma coisa para distrair a sua cabeça.
-Não vai dar certo – disse Marvin – Minha mente é tão excepcionalmente grande que uma parte dela vai continuar se preocupando.
-Marvin! – ralhou Trillian.
-Está bem – disse Marvin. – O que é que você quer que eu faça?
-Vá até a baia de entrada número dois e traga os dois seres que estão lá, sob vigilância.
Após uma pausa de um microssegundo, e com uma micromodulação de tom e timbre minuciosamente calculada – impossível se ofender com aquela entonação -, Marvin conseguiu exprimir todo o desprezo e horror que lhe inspirava tudo o que é humano.
-Só isso? – perguntou ele.
-Só – disse Trillian, com firmeza.
-Não vou gostar de fazer isso – disse Marvin[…]”

O Guia do Mochileiro das Galáxias, que dá nome ao livro, é por si um livro dentro da história. Funciona como uma grande enciclopédia e possui verbetes sobre quase tudo o que existe. Entre capítulos da história, várias vezes podemos ler trechos de verbetes do Guia. O estilo em que são escritas dão a personalidade bem humorada e irônica ao livro que está se tornando mais importante que a Enciclopédia Galáctica, em parte por ser ligeiramente mais barato, mas principalmente por trazer em seu verso a mensagem, escrita com letras garrafais e amigáveis, NÃO ENTRE EM PÂNICO!

Letras garrafais e amigáveis!

“A Enciclopédia Galáctica define ‘robô’ como ‘dispositivo mecânico que realiza tarefas humanas’. O departamento de marketing da Companhia Cibernética de Sirius define ‘robô’ como ‘o seu amigão de plástico’.
O Guia do Mochileiro das Galáxias define o departamento de marketing da Companhia Cibernética de Sirius como ‘uma cambada de panacas que devem ser os primeiros a ir para o paredão no dia em que a revolução estourar’.
[…] Curiosamente, uma edição da Enciclopédia Galáctica que, por um feliz acaso, caiu numa descontinuidade do tempo, vinda de mil anos no futuro, definiu o departamento de marketing da Companhia Cibernética de Sirius como ‘uma cambada de panacas que foram os primeiros a ir para o paredão no dia em que a revolução estourou’. […]”

Depois de uma série maluca de acontecimentos e descobertas, o livro deixa o gancho para a continuação. Os personagens estão mortos de fome após tantas aventuras, e decidem que precisam almoçar em algum lugar.

“A história de todas as grandes civilizações galácticas tende a atravessar três fases distintas e identificáveis – as da sobrevivência, da interrogação e da sofisticação, também conhecidas como as fazes do como, do porque e do onde.
Por exemplo, a primeira fase é caracterizada pela pergunta: Como vamos poder comer?
A segunda, pela pergunta: Por que comemos?
E a terceira, pela pergunta: Onde vamos almoçar?

Todos os livros da série ainda darão as caras por aqui.

Aguardem pelo artigo sobre a continuação: O Restaurante no Fim do Universo.

E Lembrem-se! Fiquem atentos nos golfinhos!

Vinte e nove atitudes para se manter criativo

A criatividade não é útil apenas para fazermos um desenho, criar um novo produto ou escrever uma poesia. Ela define nossa capacidade de lidar com os desafios da vida de formas diferentes, não óbvias. Nos mantém preparados para nos adaptarmos às adversidades do cotidiano. Permite-nos aprender mais coisas a partir de um mesmo erro. A criatividade é o que nos torna capaz de ver o ordinário, e nele encontrar o extraordinário.

Miles Davis já dizia: “se alguém quiser se manter criativo, é preciso que esteja pronto para mudar”. Dificilmente nos tornamos mais criativos se temos sempre as mesmas reações e atitudes.

Já faz algum tempo, vi um vídeo no YouTube com dicas para aumentar a nossa capacidade criativa. Como ninguém é perfeito, acredito ser impossível começar a seguir todas as sugestões da noite para o dia. Mas se nos focarmos em uma de cada vez, até que elas se tornem atitudes naturais e formos adicionando outras depois, talvez então nos tornemos pessoas melhores.

  1. Faça listas
  2. Carregue um caderno onde quer que você vá
  3. Escreva sem compromisso
  4. Saia da frente do computador
  5. Não se desvalorize
  6. Faça pausas
  7. Cante debaixo do chuveiro
  8. Tome café
  9. Conheça novas músicas
  10. Seja receptivo
  11. Cerque-se de pessoas criativas
  12. Aceite opiniões sobre o que faz
  13. Colabore
  14. Não desista
  15. Pratique, pratique, pratique
  16. Saiba que é normal cometer enganos
  17. Vá a lugares diferentes
  18. Enumere seus pontos positivos
  19. Descanse
  20. Arrisque-se
  21. Quebre as regras
  22. Não force a barra
  23. Leia uma página do dicionário
  24. Defina seus objetivos
  25. Deixe de tentar ser perfeito
  26. Escreva suas ideias
  27. Limpe seu espaço de trabalho
  28. Divirta-se
  29. Termine alguma coisa

Essa mudança de atitudes e paradigmas demandam tempo e esforço. Os melhores resultados vêm sempre à longo prazo. Comentem aqui no futuro se alguma mudança ocorrer!

O Apanhador no Campo de Centeio (The Catcher in the Rye)

“Esse é que é o problema todo. Não se pode achar nunca um lugar quieto e gostoso, porque não existe nenhum. A gente pode pensar que existe, mas, quando se chega lá e está completamente distraído, alguém entra escondido e escreve ‘Foda-se’ bem na cara da gente.”

Holden Caulfield

Atrasei um pouco o post dessa semana devido a um evento na faculdade. Foram 3 dias de palestras e workshops na área que eu estudo, design. Por causa disso, acabei demorando um pouco mais para me organizar e escrever o texto sobre o livro que li essa semana, e que se não tivesse sido recomendado por um amigo, talvez nunca fosse despertar meu interesse.

O Apanhador no Campo de Centeio

Holden Caulfield é um adolescente de 16 anos e, como qualquer outro de sua idade, é cheio de convicções. Está sempre descontente ou aborrecido com os outros, sempre incomodado com a falsidade e superficialidade das pessoas à sua volta. Sua rebeldia faz com que seja expulso do colégio interno onde estuda. Holden tem um péssimo desempenho escolar, já que não consegue se dedicar às matérias cujos professores têm atitudes das quais ele discorda. Nem mesmo seus colegas mais próximos o agradam. Ele sempre encontra algo que faz com que sinta raiva das pessoas, embora não fale nada, e nem tenha coragem para fazer alguma coisa em relação a elas. Apenas seu professor de inglês parece entender o que se passa com o jovem, embora não possa fazer nada mais do que dar conselhos.

Sabendo que seus pais não receberiam bem a notícia de sua expulsão, resolve passar os últimos dias letivos vagando por Nova Iorque, se hospedando em hotéis, frequentando bares, bebendo muito e sempre se sentindo deprimido e solitário. Durante esses dias, reflete bastante sobre sua vida (a reflexão característica da adolescência, cheia de certezas absolutas), conhece novas pessoas e reencontra antigos conhecidos, sempre buscando explicar ou entender a situação que está vivendo.

O protagonista busca nas pessoas algo que ele poderia encontrar apenas dentro de si. Admira seu irmão mais velho, que para seu desgosto foi trabalhar como roteirista em Hollywood (Holden odeia o cinema), sente falta de seu falecido irmão mais novo Allie, e ama verdadeiramente sua irmã mais nova Phoebe, a única pessoa que consegue se conectar verdadeiramente à ele.

O título do livro que à princípio, me fazia pensar que se tratava de algum romance rural ou algo do gênero, é explicado no decorrer da história, e acaba sendo decisivo para a compreensão da motivação do protagonista. Não vou estragar a experiência de quem pretende ainda ler a obra, contando aqui todos os detalhes da trama.

Uma capa mais antiga

Originalmente publicado em 1951 no formato de revista, o texto é bastante dinâmico e cheio de expressões consideradas grosseiras na época, algumas até hoje, o que atrapalhou sua publicação e popularização em diversos locais. O protagonista é pessimista e irritante mas nem por isso deixa de cativar, já que em muitas situações dentro da história não temos como não concordar com ele.

Achei bastante curioso o fato de que, apesar de se passar nos anos 1950, a história continua sendo contemporânea. É claro, há a óbvia ausência de celulares e computadores, mas tirando isso parece que o mundo não mudou nada nas últimas décadas. E é interessante ver como 8 dólares eram uma pequena fortuna sessenta anos atrás.

O Apanhador no Campo de Centeio já foi tema de músicas, usado como referência em diversos filmes e teve o sobrenome do protagonista transformado em nome de banda. Avesso ao cinema, assim como seu personagem mais famoso, o autor J. D. Salinger nunca quis que o livro fosse adaptado para o cinema.

É publicado atualmente pela Editora Do Autor, e conta com 208 páginas.

O Parque dos Dinossauros (Jurassic Park)

“Nos primeiros esboços da curva fractal, poucas indicações da estrutura matemática subjacente podem ser verificadas. Com as linhas subsequentes da curva fractal, podem aparecer mudanças repentinas. Os detalhes emergem mais claramente conforme se refaz acurva fractal. Inevitavelmente, as instabilidades ocultas começam a se manifestar. As falhas no sistema se tornam agudas. A recuperação do sistema pode se mostrar impossível. Cada vez mais, a matemática exigirá coragem para enfrentar suas implicações.”

Ian Malcom

Capa da versão digital

Ofuscado pelo sucesso da adaptação para o cinema feita por Steven Spielberg, o livro escrito por Michael Crichton e publicado em 1990 foi o escolhido por mim essa semana. Lembro-me que era apaixonado pelo assunto ‘Dinossauros’ quando criança, tendo bonecos, álbum de figurinhas, e ficava assistindo ao mesmo trecho do filme animado da Disney, Fantasia, que contava a história do planeta e passava pelos “lagartos terríveis”. Finalmente ler o livro que inspirou um dos filmes que mais gostei na infância foi uma experiência muito boa.

Tudo começa num hospital em Costa Rica, em que médicos e enfermeiros atendem um paciente de emergência, que teria sofrido um acidente com uma retroescavadeira nas obras de construção de um parque nas proximidades. Todos que o atendem estranham as características do ferimento, e não conseguem salvar o rapaz, que morre após repetir algumas vezes a palavra Raptor. No contexto, os médicos associam ao termo Hupia, que significa sequestrador, em espanhol, a uma lenda local sobre uma criatura que, como um vampiro, se alimenta de sangue das pessoas durante a noite, é capaz de mudar de forma e rapta bebês de seus quartos. Infelizmente, o próprio título do livro destrói qualquer possibilidade de se criar um mistério durante esse capítulo, que no fim das contas acaba servindo apenas para enriquecer a história de detalhes.

Algumas cenas que vemos nas continuações da franquia no cinema também se mostram presente logo no começo do livro, guardadas as pequenas diferenças. A garotinha atacada por pequenos dinossauros (procompsognatos) numa praia, apenas no segundo filme, é um dos ganchos utilizados para apresentar o leitor ao personagem principal, o professor Alan Grant, paleontólogo e completamente avesso a computadores. Foi impossível não associar o personagem imediatamente ao ator que o viveu no cinema, Sam Neill. Desisti de uma vez, e conforme os personagens eram apresentados, automaticamente assumiam a aparência dos atores do filme.

Uma notável diferença entre personagens do livro e do filme está nas crianças, nos netos de John Hammond, Tim e Lex Murphy. Enquanto no filme Lex é a mais velha, no livro ela tem apenas nove anos, e seu irmão Tim, onze. Na minha opinião, eles são os personagens pior desenvolvidos no livro. O garoto é, como qualquer outro de sua idade, apaixonado por dinossauros, característica às vezes exagerada, fazendo com que ele pareça desnecessariamente genial. Sua irmã, por outro lado, parece não se tocar do que acontece ao redor durante grande parte dos acontecimentos, e tem atitudes extremamente infantis em momentos em que isso é completamente incoerente. No fim das contas, o garoto de onze anos aparenta ter uns 16, exceto por suas limitações físicas, e a garota de nove aparenta uns quatro ou cinco anos. Spielberg em sua adaptação, mostra mais uma vez sua capacidade de construir personagens infantis com grande maestria.

Sam Neill como Dr. Alan Grant

Bom, acredito que todos conheçam a história, então não pretendo entrar em detalhes de enredo. Deixarei para os leitores curiosos descobrirem por si as diferenças gritantes entre o livro e o filme. Como uma obra de ficção científica, se propõe a discutir um tema a ela contemporâneo de uma forma metafórica que pode ser mais facilmente aceita pelo leitor. O livro é todo permeado com discussões sobre os usos da engenharia genética, e a ética envolvida ou não nos mesmos. Tudo sempre extremamente preciso e detalhado.

A sequência de acontecimentos é guiada por um modelo de estudo baseado na Teoria do Caos, sendo o matemático Iam Malcom praticamente um vidente durante a história toda. Muitas vezes assumindo o papel de chato, e sempre desacreditado pela equipe do parque, a cada página somos capazes de perceber que ele estava certo desde o começo.

A partir de certo momento, os dinossauros e todos os problemas que acontecem na ilha tornam-se motivadores para uma complexa discussão sobre o papel do homem no planeta, nossa falta de capacidade de prever e controlar os rumos que a vida toma, a fragilidade de nossa existência, e como nos tornamos arrogantes acreditando que nossas atitudes podem prejudicar a vida no planeta de forma irreversível, ao invés de perceber que apenas colocamos em risco nossa própria existência. Discute-se profundamente a ética e a falta dela nas pesquisas científicas atuais, e questiona os famigerados “avanços científicos” de que tanto se falam, mas se mostram ineficientes em esclarecer para o que a ciência serve, e para que ela não serve.

O inesquecível logo do filme de 1993

Um ótimo livro de aventura, cheio de questionamentos filosóficos e lições de matemática teórica. Com uma curva dramática que sobe inacreditavelmente no final, o livro consegue prender a atenção e empolgar praticamente do começo ao fim, exceto nos momentos em que estamos querendo que a garotinha seja devorada logo pelo T-Rex e deixe os outros personagens em paz.

O Parque dos Dinossauros foi publicado no Brasil em 1991, pela Editora Nova Cultural, em edição de 492 páginas.

Descobri logo antes de escrever esse post que o autor escreveu uma continuação, chamada Mundo Perdido (Lost World) em 1996, que também foi utilizada nas adaptações subsequentes para o cinema. Assim que encontrar em algum sebo, lerei e registrarei aqui minha opinião!

Depois de ler esse texto, vá ouvir a trilha sonora do filme, que é mais uma obra prima do grande compositor John Williams!

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Oito dicas para escrever ficção, por Neil Gaiman

Não sei se estou certo, mas acredito que quem goste muito de ler tenha ao menos uma pontinha de vontade de escrever também. Uns não o fazem por vergonha, outros por falta de tempo. Outros ainda escrevem e não mostram para ninguém. Seja como for, escrever é como qualquer outra tarefa, quanto mais treinamos, melhor as desempenhamos.

Trouxe aqui uma lista de dicas de um dos meus autores favoritos, Neil Gaiman, famoso principalmente pela série de quadrinhos Sandman, publicada no Brasil entre 1889 e 1998.

A lista foi originalmente publicada em uma coletânea de listas do The Guardian, onde vários autores defendem seus pontos de vistas sobre as melhores formas de escrever ficção.

 

  1. Escreva.
  2. Coloque uma palavra depois da outra. Encontre a palavra certa, coloque-a no lugar.
  3. Termine o que estiver escrevendo. O que quer que precise fazer para terminar, termine-o.
  4. Deixe-o de lado. Leia fingindo que nunca o leu antes. Mostre-o para os amigos cujas opiniões você respeita e que gostam do tipo de coisa que isso é.
  5. Lembre-se: quando as pessoas dizem que algo está errado ou que não serve para elas, provavelmente estão certas. Quando lhe dizem exatamente o que está errado e como consertá-lo, provavelmente estão erradas.
  6. Conserte. Lembre que, cedo ou tarde, antes que isso chegue a alcançar a perfeição, você terá que deixá-lo e seguir em frente e começar a escrever a próxima coisa. Perfeição é como perseguir o horizonte. Continue se movendo.
  7. Ria das suas próprias piadas.
  8. A regra principal para se escrever é que se você faz com suficiente segurança e confiança, poderá fazer o que bem quiser. (Isso pode ser uma regra para vida assim como para a escrita. Mas definitivamente é certa para a escrita.) Então escreva sua história como ela precisa ser escrita. Escreva-a honestamente e conte-a o melhor que puder. Não estou certo que existam quaisquer outras regras. Não alguma que importe.

 

Espero que seja útil para vocês, assim como foi útil para mim!

O Médico e o Monstro (The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde)

Capa da primeira edição, publicada em 1886.

Escrita por Robert Louis Stevenson, e publicada através de folhetins durante 1886, a obra foi considerada um excelente livro de suspense e terror, deixando marcas na literatura do gênero até hoje. Um clássico instantâneo.

Com linguagem simples e de fácil compreensão, foi escrita para o grande público, que já admirava o autor por sua obra anterior, A Ilha do Tesouro.

O livro retrata uma Londres misteriosa e perigosa. A tensão paira no ar juntamente com a névoa espessa que bloqueia a visão, torna a respiração difícil e transforma os postes a gás em brilhantes gemas preciosas, capazes de trespassar as camadas opressoras do nevoeiro, e da sociedade de então.

É ambientada no final do século XIX, época em que o contraste entre as classes sociais era gritante, onde cada vez mais os industriais se distanciavam dos miseráveis. Londres, a cidade hipócrita, durante o dia um local de trabalho pesado e honesto, e a noite, entregue a todos os vícios. Hipocrisia essa que é um dos maiores motivos da obra.

Dr. Jekyll, um médico filantropo conhecido e respeitado, era um homem dividido entre sua aparência e seus desejos reprimidos durante toda sua vida virtuosa. Busca na ciência e na química, um meio de se libertar desse lado sombrio que percebe fazer parte de seu ser, e cria uma fórmula que julga ser capaz de separar definitivamente seu ‘lado bom’ de seu ‘lado ruim’. Entretanto, como observa depois, talvez por ser movido por uma ambição egoísta, a fórmula trouxe toda a obscuridade de sua personalidade a tona, de uma forma tão poderosa que foi capaz de mudar sua aparência e estatura. Esqueça o Mr. Hyde retratado no cinema, como um monstro grande e forte. O monstro aqui existe, mas em suas concepções morais (ou na falta delas), e não na aparência. Mr. Hyde é representado como um homenzinho baixo, atarracado e franzino, por ter sido um aspecto pouco exercitado na vida de Dr. Jekyll. Mas pelo mesmo motivo, também é muito mais jovem, e essa juventude faz com que Jekyll sinta-se tentado a viver  um pouco na pele de Hyde, usando-a como o disfarce perfeito para se entregar aos vícios sem macular a imagem do bom doutor.

Como a capa retrata bem as ruas enevoadas descritas no livro.

Com o tempo, a personalidade de Hyde começa a sobrepujar a de Jekyll, que se torna fraco e doente. O misantropo Hyde comete atrocidades que chamam a atenção da Scotland Yard (é a primeira participação da instituição em uma obra de ficção) e o tornam um homem temido e procurado. Com as transformações físicas fora de controle, a fórmula acabando e impossibilitado de conseguir mais ingredientes, Dr. Jekyll passa a ser um homem cada vez mais recluso, misterioso e amargurado. Seus amigos descobrem a verdade num momento em que não há mais nada a se fazer por ele.

O livro todo é um ensaio sobre consciente e subconsciente, e isso se torna mais claro quando lemos os capítulos finais, escritos em primeira pessoa de maneira epistolar (utilizam-se do formato de cartas para contar a história). Também questiona os avanços científicos da época, embora hoje em dia esse aspecto da obra acabe passando quase que batido para nós leitores.

Embora seja um livro curto, apenas 130 páginas, a profundidade da história foi tamanha, que influencia o gênero até hoje. Dele, surgiram diversas adaptações para o cinema, quadrinhos, diversos desenhos animados, séries de televisão e até mesmo música. De acordo com a Wikipedia, a expressão “Jekyll and Hyde” tornou-se parte do jargão inglês, usada para indicar uma pessoa que age de forma moralmente diferente dependendo da situação.

Li a versão de bolso da Editora Martin Claret. O texto é integral.

Gostei, e recomendo!

Jogos Vorazes (Hunger Games)

Primeiro volume da trilogia

Você percebe que um livro é bom, quando você começa a ler no domingo, e quando chega sexta feira, já está na metade do terceiro da série. Sério, foram mais ou menos 1000 páginas lidas, sem perder o fôlego. Não encontrei nada do que esperava encontrar no livro, e isso é ótimo, porque admito que comecei a ler com certo preconceito. Achei que pudesse ser um próximo Crepúsculo. Ainda bem que estava enganado!

Eu sabia que meu irmão já havia assistido ao filme, e ficou maluco de tanta empolgação. Alguns amigos também já haviam falado bem da série, então resolvi dar um voto de confiança.

O cenário é pós-apocalíptico, onde os EUA não existem mais. Em seu lugar surgiu Panem, uma nação formada por doze Distritos, comandados com mão de ferro por uma tirânica Capital cujos habitantes vivem uma vida de supérfluos e não têm a menor idéia da miséria dos habitantes dos distritos. A história é narrada em primeira pessoa, por Katniss Everdeen, uma moradora do Distrito 12, produtor de carvão e mais pobre dos distritos. Cada um deles produz algo essencial para a Capital, e formam a linha de suprimentos da mesma. Por exemplo: o Distrito 11 é o setor agrícola, o Distrito 4 é responsável pela pesca, o 7 por madeira e papel.

Setenta e cinco anos antes, durante o tempo que ficou conhecido como Dias Escuros, os distritos se rebelaram contra a Capital, mas foram derrotadas pelas forças militares da última. O 13º Distrito foi bombardeado e destruído para servir como exemplo, e desestimular os outros à continuarem com sua rebelião. Com o fim do conflito, a Capital instituiu um evento anual que serve para lembrar os habitantes dos distritos que eles serão sempre submissos ao seu poder, chamado Jogos Vorazes. Os Jogos são um tipo de Reality Show, onde 2 participantes de cada distrito, um garoto e uma garota, de 12 à 18 anos, são sorteados como tributos para serem jogados em uma arena mortal, de onde apenas um deles deve sair vitorioso. É um programa brutal, assistido com prazer pelos habitantes da Capital, que não envia representantes, e com pesar pelos moradores dos distritos, que são obrigados à assistir aos jogos em telões públicos.

Katniss perdeu seu pai ainda jovem, morto num acidente na mina de carvão em que trabalhava. Desde então, assumiu a responsabilidade de alimentar a sua família, aprendendo a caçar na floresta e treinando suas habilidades com arco e flecha. Aos 16 anos, acaba sendo forçada à participar da 74ª Edição dos Jogos Vorazes. Acompanhar pelos olhos da protagonista o choque cultural quando ela chega à Capital é algo que dificilmente pode ser passado num filme que não conta com os diálogos internos da personagem. Todos os habitantes da Capital que ela tem contato parecem extremamente fúteis e rasos, preocupados apenas com as aparências, abusando da fartura e abundância de recursos.

Poster de divulgação da adaptação para o cinema

Quando chega na arena, percebemos o sofrimento de Katniss por saber que está sozinha, sendo obrigada a matar seus rivais, inclusive o outro tributo de seu distrito, um rapaz cuja família ela conhece há anos.

A violência e brutalidade da situação é retratada no livro de forma crua, sem exaltação, mas também sem suavização. As coisas acontecem, e a personagem tenta lidar com elas com as condições que possui no momento. Numa época de banalização da violência na televisão, nos filmes e nos videogames, o sofrimento da personagem perante os Jogos Vorazes traz uma reflexão bem-vinda para as crianças e adolescentes que gostam da série. Katniss é forte e decidida o suficiente para fazer o que for necessário para se manter viva, mas humana o suficiente para reconhecer em cada adversário uma pessoa como ela, com sonhos, família, romances.

O final do livro, apesar de trazer a óbvia sobrevivência da personagem, consegue virar a trama de forma que você espere para conhecer as consequências da vitória, e o que vem depois.

Já li o segundo volume, e estou na metade do terceiro, mas não sei como falar sobre eles aqui sem um festival de spoilers. De repente comento algo mais pra frente.

Jogos Vorazes, de Suzanne Collins é publicado no Brasil pela editora Rocco, numa edição com 400 páginas.

***

 

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Clube da Luta (Fight Club)

Terminei de ler o livro dessa semana ontem, um dia antes do prazo. Dá pra imaginar que é muito bom, não?

Primeiro, devo admitir sem nenhum orgulho, que nunca vi o filme baseado no livro. Pois é, me julguem! Terminei o livro, “aluguei” o filme e assisti, e agora estou escrevendo para o blog.

E devo dizer: se comecei a ler o livro me sentindo culpado por não ter visto o filme, terminei a leitura agradecendo pelo fato. Fui surpreendido pela reviravolta da trama, da maneira como o autor idealizou. Talvez se tivesse assistido ao filme antes, ficaria procurando evidências da revelação final durante todo o texto. O filme é realmente excelente, curti demais, dei risada, achei irado. Mas o livro é mais. Mais tudo.

Um dos poucos livros que já li, narrado totalmente em primeira pessoa, algo que no começo não percebi ser essencial para a construção do final. E tudo é uma espiral de auto-descobrimento e auto-destruição. O protagonista sofre de insônia, e o meio que encontra para conseguir dormir ao chegar em casa é frequentar grupos de apoio à doenças terminais. Estar próximo da experiência de morte é a única coisa que o faz se sentir vivo. E ele perde tudo isso quando conhece Marla Slinger, uma mulher problemática que descobriu nos grupos de apoio um hobbie.

Em dado momento, o protagonista, o qual nunca nos é revelado o nome, conhece Tyler Durden, de quem viria a se tornar muito próximo. Admira em Tyler todas as características ausentes nele próprio. Surge dessa amizade o Clube da Luta, no estacionamento de um bar. A luta o faz se sentir vivo novamente, e faz com que os problemas da vida se tornem pequenos e fáceis de encarar. Quando você aprende a lutar, não se sente mais intimidado perante os desafios.

As regras do Clube da Luta:

  • Você não fala sobre o Clube da Luta;
  • Você não fala sobre o Clube da Luta;
  • Quando alguém gritar “pára!”, sinalizar ou desmaiar, a luta acaba;
  • Somente duas pessoas por luta;
  • Uma luta de cada vez; Sem camisa, sem sapatos;
  • As lutas duram o tempo que for necessário;
  • Se for a sua primeira noite no Clube de Luta, você tem que lutar!

Apesar das duas primeiras regras, o Clube da Luta se espalha rapidamente por diversas cidades, e novos grupos começam a surgir da ideia inicial. Tyler começa a se tornar uma figura lendária entre os integrantes, e de carona, o protagonista, que passa a ser reconhecido em praticamente todos os lugares.

Tyler começa a recrutar alguns integrantes do Clube para um exército pessoal, e os faz trabalhar incessantemente em sua fábrica de sabão, outro ponto chave que a princípio passa despercebido. Ele quer causar uma grande revolução cultural. Acabar com a sociedade de homens fracos, que não tem um papel na História. Incita seus “soldados” a realizarem atos de vandalismo, arrumarem briga com pessoas aleatórias e perderem, para que elas sintam o poder que lutar lhes traz. Quer acabar com a necessidade que as pessoas têm do supérfluo. Quer trazer a humanidade ao seu estado natural, recomeçar.

As ideias de Tyler Durden começam a entrar em conflito com os valores do protagonista, fato que acarreta o momento da revelação final. Você já sabe qual é, mas não vou escrever aqui para que algum sortudo que não tenha visto o filme possa ler o livro como eu o fiz, de forma inocente.

O final é a maior diferença entre o livro e o filme, do ponto de vista plástico. No livro, você é levado a acreditar que o protagonista é incapaz de se livrar de Tyler Durden e dos demais integrantes do Clube da Luta. No cinema, parece claro que Tyler se vai, e que agora o primeiro deverá viver as consequências dos atos do antigo parceiro, mas a interpretação é bastante subjetiva. Tive a impressão de que o diretor quis me fazer pensar que tudo aquilo pode ter acontecido ou não.

Ótimo livro. Uma leitura séria e até densa. Um filme irônico, com várias cenas que são engraçadas, mas no fundo te fazem se sentir culpado por rir.

Resta o questionamento: Você possui as coisas que você tem, ou seus pertences lhe possuem? Quem é você? Apenas o que está escrito na sua identidade, e o que tem na conta do banco? Ou você é algo mais? Principalmente durante o livro, o protagonista é levado a acreditar ser “o lixo do mundo”, mas acredito que tudo isso sirva para convidar quem lê à reflexão.

Li a versão publicada pela Editora Leya, com 272 páginas e uma ótima introdução escrita pelo autor.

Já comecei o próximo!